Autor: Filipe Manuel Neto
**Um marco do cinema alemão, o filme expressionista por excelência e um filme obrigatório para qualquer cinéfilo.**
Este é um daqueles filmes mudos que qualquer amante de cinema devia ver, mesmo aqueles que costumam evitar os filmes antigos. Trata-se, apenas, de um dos primeiros grandes filmes de terror e o filme mais notável e mais perfeito do movimento expressionista alemão.
A história não podia ser mais atraente: numa pequena povoação alemã, um velho desconhecido chega disposto exibir, na feira anual que ali decorre, um homem que dorme há vinte anos, mas que pode responder ao que lhe for perguntado e consegue ver o futuro. E quando ele prediz, com sucesso, o assassinato de um morador da vila, Francis, um outro morador, decide investigar o recém-chegado.
Dirigido habilmente por Robert Wiene, o filme representa o expoente do Expressionismo Alemão. Os actores têm uma maquilhagem pesada e atitudes muito teatrais e exageradas. Os cenários estranhos parecem saídos de um sonho, ou ainda melhor, de um pesadelo. A música que acompanha o filme, que é mudo como disse antes, é predominantemente atonal e lembra algumas das composições de Alban Berg. Há uma harmonia perfeita entre a música, o cenário e a história contada. Tudo nos lembra um pesadelo, um delírio, uma grande alucinação.
Para entender este filme e gostar dele é preciso entender porque este filme é assim... Temos de ter em mente que estamos em 1920, a Alemanha acabou de perder a Primeira Grande Guerra de uma forma humilhante, o país está destruído, falido, os bens de primeira necessidade custam caro, o Marco alemão é uma moeda que não tem valor e boa parte dos homens válidos perdeu pernas, braços ou outras partes do corpo na guerra. A Alemanha é um país que tem tudo para se sentir deprimido, revoltado e vivendo um pesadelo. O que este filme faz é transpor para o cinema esse sentimento. Nesse sentido, é uma peça de arte incrível. Enquanto os países vencedores da guerra começam a viver os Loucos Anos Vinte, cheios de euforia e vontade de viver a vida por mais curta que seja, aqui temos o oposto, com o desejo de escape traduzido de uma forma pessimista e negativa.
Eu podia continuar mas acho que isto chega para entender este filme e para justificar o seu incontornável valor cultural e artístico. Vejam este filme, pelo menos uma vez na vida.
Em 21 Jan 2020