Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme interessante e controverso, ainda que seja muito parcial e esteja carregado de propaganda religiosa evangélica.**
Neste filme, um incidente de quase-morte permite a uma criança ter uma visão rara da vida após a morte, algo que irá mudar a vida dela e daqueles que a rodeiam. Claro, estamos perante um dos "filmes evangélicos", feitos e patrocinados pelas igrejas evangélicas dos Estados Unidos, a fim de propagarem a sua religião e obterem mais conversões.
Ao longo do enredo, a existência de vida após a morte é tida como uma certeza absoluta. Não há margem de dúvida e todas as explicações científicas que o filme avança para o incidente envolvendo aquele menino são propositadamente apresentadas de modo pouco confiável e credível. Isto chama-se ser tendencioso, ser intelectualmente falacioso. E sim, isto é feio.
Apesar disso, o problema abordado é interessante e é valido para qualquer religião ou sistema de crenças: as dúvidas dos adultos são confrontadas por uma criança, cheia de certezas, reforçadas pela ideia de inocência, como se aquela criança fosse absolutamente incapaz de mentir (nenhuma criança o é, e quem foi pai ou trabalhar com crianças sabe disso muito bem). Os adultos dizem que acreditam nas coisas, mas estão sempre com dúvidas e são incapazes de lidar com qualquer prova, mesmo que apoie as suas crenças. Isso denuncia alguma hipocrisia subjacente às religiões, incluindo aquela que patrocinou o filme. O filme carrega ainda uma dose de sentimentalismo elevada, que pode ser mais ou menos tolerável mas evita ser piegas.
Eu não conheço ninguém do elenco, mas reconheço que os actores fizeram um trabalho decente. No entanto, o filme não é um espectáculo de interpretação dramática e, por isso, não espere por surpresas neste campo. O filme vale a pena pela história e pelo problema que aborda, mesmo que seja estragado pela parcialidade religiosa com que o faz.
Em 07 Jul 2018