Autor: Filipe Manuel Neto
**Honra o seu predecessor, mas não acompanha o seu passo.**
Cheguei ao conhecimento desta trilogia de filmes suecos através do seu famoso "irmão gémeo" americano, e acredito que não fui o único. Apesar dos créditos internacionais, não é habitual que o cinema sueco seja muito divulgado. E tampouco a literatura! Por isso, também não li o livro para julgar como a adaptação lhe fez justiça, mas faço fé naqueles que dizem que foi uma adaptação relativamente fiel ao material original. Este filme foi dirigido por Daniel Alfredson, que sucede a Neil Arden Oplev na cadeira do director.
Este filme é uma sequela e acompanha a sequência lógica dos acontecimentos após o primeiro filme, *Os Homens Que Odeiam As Mulheres*: após um tempo fora do país, Lisbeth Salander, agora dona de uma pequena fortuna, volta à Suécia ao mesmo tempo em que a revista Millennium, dirigida por Erika Berger e Mikael Blomkvist, se prepara para expor uma rede de lenocínio e tráfico de mulheres. Mas o assassinato de dois colaboradores da revista e também do responsável pela custódia legal de Lisbeth faz com que as autoridades comecem a procurar por ela. Determinado a vingar os colegas mortos e convencido de que ela não é a culpada e alguém está a usá-la como bode expiatório, Mikael dispõe-se a investigar o caso e ajudar a amiga que o ajudou anteriormente, e a quem deve a vida.
O filme tem uma boa trama e uma história carregada de mistério e que nos sabe prender pela curiosidade, mas é preciso estar atento porque dá várias reviravoltas e a certa altura factos como, por exemplo, a morte dos dois jornalistas acabam por ficar em segundo ou mesmo terceiro plano. Também há bastantes momentos de acção, o que torna tudo mais divertido de ver. O que mais me custou foi a forma desinteressada com que Alfredson dirigiu o filme. Ele dá ao filme uma sensação demasiado televisiva e não é capaz de criar o ambiente de mistério e tensão que fez com que o primeiro filme funcionasse com tanta perfeição. As personagens também já não tiveram a mesma capacidade de chegar ao público.
O elenco é esmagadormente o mesmo que vimos no filme anterior, mas como eu disse não demonstra o mesmo nível nem consegue o mesmo impacto, o que não significa que tenha feito um mau trabalho. Noomi Rapace vê o seu estatuto de protagonista consolidado neste filme, que é inteiramente em redor da sua personagem; Michael Nyqvist, agora numa posição mais reservada, também nos brindou com um bom trabalho chegando mesmo, para mim, a ser o membro do elenco que está mais perto do trabalho desenvolvido em *Os Homens Que Odeiam As Mulheres*. Lena Endre teve aqui mais espaço para mostrar o que vale, e também nos dá um trabalho bastante satisfatório. O filme conta ainda com boas colaborações de Peter Andersson, Yasmine Garbi, Ralph Carlsson, Micke Spreitz, Per Oscarsson e Georgi Staykov.
Tecnicamente, o filme é demasiado televisivo na sua aparência e na forma como parece ter sido pensado… de modo que nem sei bem se terá circulado pelos teatros. Seja como for, é algo que não me causou problemas, apesar de ser uma pena que a produção não tenha pensado em criar um produto final com uma forma mais cinematográfica. A cinematografia e edição são regulares, mas não primam pelo brilhantismo. O filme é longo, tendo quase três horas de duração e em algumas versões (dedicadas à TV) divide-se em duas metades. Os efeitos são bons e cumprem o seu papel, os cenários e figurinos, assim como a escolha criteriosa das paisagens e locais de filmagem, aumentam a beleza visual de todo o conjunto. A banda sonora faz bem seu trabalho.
Em 24 Oct 2020