Autor: Filipe Manuel Neto
**Demasiado longo, demasiado etéreo, demasiado irrealista.**
Este filme conta a vida, pregação, morte e ressurreição de Jesus Cristo. É uma das últimas grandes epopeias bíblicas da época dourada de Hollywood, tendo sido feita por George Stevens, com Max von Sydow no papel daquele que, para os católicos e cristãos em geral, é o filho de Deus.
Projectado para rivalizar com "Rei dos Reis", o filme não conta só a história de Jesus mas fá-lo de maneira a fortalecer a Sua divindade. Isso pode ser bom ou mau, só depende de como você está à vontade com isso. O filme não é propriamente apologético, privilegiando a beleza visual e emocional da vida de Jesus sem tentar converter-nos. Filmado inteiramente nos EUA, tenta dar beleza a cada cena e, às vezes, tem cenas que mais se assemelham a pinturas. A influência da arte clássica na concepção visual do filme é óbvia.
Apesar disso, o filme está cheio de problemas. Von Sydow tenta agir como um deus, com uma postura etérea, e isso tornou a sua actuação teatral e pouco natural. A escolha de alguns cenários deixa evidente que não estamos a ver a Palestina e corta qualquer tentativa de realismo. Os trajes, embora cumpram o seu papel, são pouco correctos do ponto de vista da história. Os soldados romanos, por exemplo, estão longe do aspecto com que nos acostumamos e que seria o seu uniforme. A verdade histórica também é maltratada, com personagens em diálogos e situações que não podiam ter acontecido. A banda sonora é cliché e não acrescenta nada particularmente bom. Mas, acima de tudo isso, o principal problema do filme é o ritmo lento, que se arrasta por mais de três horas. Stevens parece pensar que o tamanho é sinal de que o filme é épico, pelo que quis que o seu filme fosse longo como se a sua qualidade fosse medida a metro. Assim, o filme arrasta-se como a geleia no verão e torna-se quase insuportável. Adormeci nas primeiras três tentativas para ver tudo.
Em 23 Aug 2018