Autor: Filipe Manuel Neto
**Esquecível. Sinceramente, até tive dificuldades para não me esquecer deste filme vinte e quatro horas depois de o ter visto.**
Ultimamente, vi pelo menos dois filmes em que animais selvagens ferozes acabam por se tornar na maior ameaça a um pequeno grupo de humanos que, de modo inocente ou sem qualquer má intenção, cruzam o caminho deles. Este foi um desses filmes. Não traz nada de novo ou de original a um subgénero de terror que, com a crescente consciencialização e sensibilização para a protecção da fauna e dos espaços naturais, tende a tornar-se cada vez menos interessante para a generalidade do público.
Um dos pontos fortes do filme são os aspectos técnicos, em particular a cinematografia, que aproveita o melhor das paisagens naturais magníficas do Alasca. Não é possível ver este filme sem sentirmos uma grande vontade de calçar um par de botas resistentes e ir lá vivenciar aquele contacto íntimo com a natureza, no seu estado mais intocado. Mesmo os menos aventureiros vão ficar impressionados com a beleza dos locais e das paisagens em que o filme se ambienta. O facto de boa parte da acção se ambientar à noite ou em dias nebulosos ajuda a modelar a tensão necessária para fazer o filme funcionar, e há realmente vários momentos em que a floresta parece misteriosa, ameaçadora. Isso é um dos atributos que faz os filmes de terror funcionarem tão bem nas florestas. O filme conta ainda com um conjunto discreto, mas eficaz, de efeitos visuais e sonoros, que transformam cada um dos confrontos com o urso num verdadeiro espectáculo, cheio de credibilidade e perigo.
O elenco é misto: temos alguns actores sólidos mas também muitos outros que pouco ou nada acrescentam à qualidade do produto final. James Marsden e Thomas Jane carecem de um director que os guie e ajude a chegar ao máximo potencial, resultando num pobre e esquecível esforço que não os enobrece nem os prejudica. Billy Bob Thornton é uma boa adição, mas recebe material francamente decepcionante e não tem mais a fazer do que parecer detestável. Scott Glen tem ainda mais razões de queixa, posto que quase não aparece em cena e, quando o faz, é tão apagado que não tem qualquer relevância. Quanto às actrizes, são donzelas em perigo permanente que os “cavaleiros” vão salvar. A jovem Kelly Curran deve sentir-se envergonhada por este filme, onde a única coisa que fez foi mostrar os seios numa cena infeliz e sem qualquer espécie de “sex appeal” convincente.
Ainda assim, as coisas conseguem tornar-se piores se acrescentarmos um director inapto, chamado David Hackl, e um roteiro pobre, com uma história que atira as personagens ao perigo sem grandes explicações. A briga dos dois irmãos é muito mal explicada e pouco convincente, o retorno do irmão pródigo não convenceu, toda aquela história do bar foi um evidente pretexto para apresentar o irmão polícia e o contraste entre os dois – cliché barato de filmes com irmãos – e o ataque aos lenhadores, o primeiro ataque daquele urso, é resumido ao tamanho de uma nota de rodapé quando deveria ter mais impacto entre o público. O que acontece depois é uma catadupa de clichés e ideias comuns em filmes do tipo, com as personagens a tentar sobreviver e o inevitável confronto com a ameaça.
Em 12 Dec 2023