Autor: Filipe Manuel Neto
**O derradeiro insulto.**
Eu estava curioso para ver este filme. Sempre me interessei por estes temas de religião porque, aqui na Europa, a falta de fé e o crescente número de ateus é muito visível. No entanto, fiquei absolutamente enojado com a forma distorcida com que tudo é abordado.
O filme foi feito e patrocinado por evangélicos dos Estados Unidos, mas observe bem que eles chamam a si mesmos de Cristãos. Acontece que o Cristianismo é muito mais vasto e tem sido dividido em centenas de igrejas independentes, sem que nenhuma delas deixe de ser cristã embora todas discordem entre si, em matérias de fé e de doutrina. Portanto, não se surpreenda que muitos cristãos não partilhem o ponto de vista dos cristãos que pagaram e fizeram este filme. Eu sou cristão, na medida em que sou Católico, e não concordo com este filme.
Discutir a fé é impossível porque é algo absolutamente pessoal, diz respeito a cada um. Porém, este filme traz um debate em que Deus é propriedade exclusiva de um só grupo de pessoas: os Evangélicos. Mas se Deus é como os nossos pais nos ensinam, então Ele ama todos os homens e é Senhor de todos, mesmo daqueles que não acreditam Nele. Então o que dizer dos Muçulmanos, que adoram o mesmo deus que os Cristãos, mas que foram maltratados até ao insulto neste filme? E os ateus? Esses foram verdadeiramente diabolizados! Eu conheço muitos ateus e nenhum deles está em guerra com Deus, como o professor deste filme parece estar! Geralmente, são pessoas muito tolerantes mas exigem o direito de não serem convertidos a qualquer fé e, temos que reconhecer, eles têm esse direito. Nós, que acreditamos em Deus, não temos o direito de os julgar mas este filme não só os julga como os condena e rotula, o que é irónico se considerarmos que a Bíblia é a primeira a advertir contra tais julgamentos.
Para resumir, o filme é um grande insulto a todos os que não se identificam como Evangélicos, mas volta-se muito particularmente contra todos os ateus, os agnósticos e os muçulmanos. O roteiro é uma peça de propaganda que ricocheteou e explodiu na cara dos Evangélicos, que se mostram, assim, profundamente fanáticos e intolerantes para com quem pensa diferente deles. O elenco, por sua vez, é uma desgraça. Nem vale a pena comentar a falta de capacidade interpretativa destes "actores".
Em última análise, a qualidade terrível do produto final pode acabar por ser um argumento válido para rezarmos a Deus por um milagre: o desaparecimento total deste filme das prateleiras e das nossas memórias. Se tal milagre acontecesse, eu só me arrependeria de não poder telefonar ao Vaticano para avisar Sua Santidade o Papa, mas ficaria feliz em acreditar que este filme nunca existiu.
Em 29 Jun 2018