Autor: Filipe Manuel Neto
**Gostei, mas estava à espera de algo ainda melhor e tenho algumas dúvidas acerca do roteiro.**
Adorei o primeiro filme e sinceramente tinha boas expectativas para esta sequela. Não sei se foi isso que toldou o meu julgamento, ou não, mas o facto é que fiquei um pouco decepcionado: eu esperava mais qualquer coisa que não sei bem o que poderia ser, mas que nunca chegou. No entanto, admito que o problema pode estar mais em mim mesmo do que no filme.
O filme começa por fazer uma brevíssima abordagem ao caso de Amityville, já bastante repisado em cinema, como sabemos. Partindo destas cenas iniciais, acompanhamos os Warrens, famoso casal de investigadores psíquicos, até ao Reino Unido para investigar o famoso caso de Enfield, o qual também já foi dramatizado anteriormente. E aqui começam as minhas interrogações e as minhas dúvidas: não teria sido melhor deixar Amityville de lado e pensar noutra maneira de dar início ao filme? Não me parece assim tão difícil e retiraria ao filme a sensação, estranha, de que quis abordar dois casos sobrenaturais de uma só vez. E mais uma coisa: após alguma leitura, eu apercebi-me de que a participação dos Warrens na investigação ao caso de Enfield (que quase toda a gente, hoje, considera uma falsificação) foi muito reduzida. Não teria sido interessante abordar um caso que os Warrens tivessem verdadeiramente estudado, e que não fosse, talvez, tão famoso e tão claramente falso quanto o de Enfield?
No geral, gostei do filme. Dizer o contrário seria mentir. É um filme elegante, que cumpre aquilo que promete e sabe apresentar-se como uma produção sólida e destacar-se da imensidão de filmes indie de baixo orçamento que abunda no género de horror. Também me pareceu um sucessor digno do primeiro filme *Conjuring*. Mas realmente faltou qualquer coisa para mim, como disse antes. Gostei da forma como constrói tensão e a atmosfera de ‘suspense’ é genuína e sólida. Porém, a maioria dos sustos são previsíveis e não há muito de original. Outro problema que senti foi o ritmo desigual e a duração exagerada do filme. O começo é demasiado lento, demora muito a introduzir a história e passa um tempo infinito até as coisas começarem a “aquecer”. Depois, tudo se passa tão depressa que quase não temos oportunidade de saborear o medo.
Habilmente dirigido por James Wan, o filme retém do seu predecessor as participações de Vera Farmiga e Patrick Wilson. Já familiarizados com as suas personagens, eles saem-se ainda melhor do que no primeiro filme: Wilson é o que mais evoluiu e melhorou, mas continua a ser Farmiga quem rouba as atenções e domina o filme, com uma grande presença e uma actuação muito competente. Frances O'Connor também esteve muito bem e foi muito profissional no seu papel. Madison Wolfe e Lauren Esposito também me pareceram bem. Simon McBurney podia ter sido melhor, mas parece-me que o roteiro não deu à personagem dele tanta atenção quanto aquela que realmente merecia.
A nível técnico, é um filme que justifica cada cêntimo do seu vasto orçamento: o CGI e os efeitos visuais e sonoros são do melhor que havia ao dispor de Hollywood e funcionam, conjugando-se perfeitamente com uma cinematografia que capta muito bem o ambiente nebuloso londrino e o carrega com mais sombras e trevas sempre que é oportuno. A luz, e a ausência dela, é de facto um dos elementos que mais ajuda à construção do medo neste filme, tal como o som, os efeitos de som e uma banda sonora subtil e mais habilmente concebida do que aquela que foi usada no primeiro filme. A concepção dos monstros e demónios funcionou na perfeição, especialmente a freira, e o desenho dos cenários é excelente.
Em 14 Mar 2021