Autor: Filipe Manuel Neto
**Uma continuação honrosa, mas com problemas no roteiro.**
Após o sucesso estrondoso de *Jogos da Fome* os estúdios americanos ficaram com fome de mais filmes e trilogias para jovens adultos. *Maze Runner* e *Divergente* foram dois dos casos mais evidentes, com roteiros e material de origem que, em tudo, nos lembram *Jogos da Fome*.
Neste filme, a continuidade do filme *Divergente*, assistimos à ascensão ao poder de Jeannine e à fuga de Tris e Quatro. Eles perderam amigos e familiares no golpe militar orquestrado contra os Abnegados e agora têm de se refugiar junto dos Cândidos. A trégua, porém, é curta: enquanto Jeannine precisa de encontrar um Divergente específico, particularmente forte, que abra uma caixa onde os fundadores do sistema de facções gravaram uma mensagem, Quatro encontrará uma aliada improvável, mas determinada a derrubar os Eruditos: a sua própria mãe, Evelyn, que todos supunham estar morta.
Pessoalmente, considero o filme uma continuação bastante digna, que honra o predecessor e entretém bastante bem o público. Não obstante, tal como o primeiro filme, o roteiro sofre de sérios problemas de lógica. Por exemplo, a forma estranha como Tris parece traumatizada e em choque com os eventos do fim do filme anterior e rapidamente ultrapassa isso, ficando apta a combater. Penso que teria sido melhor para o filme seguir mais atentamente o livro original, coisa que não foi feita.
Importado do filme anterior, o elenco é bastante bom e competente. Shailene Woodley é linda e fique admirado de ver sem os longos cabelos do filme inicial, mas foi uma mudança de visual que se encaixa no filme e assinala o quanto a personagem ficou marcada pelos acontecimentos do filme anterior. A actriz, de resto, fez um bom trabalho. Theo James também esteve excelente, em particular nas cenas de acção, e sinto que teve mais espaço e tempo de tela para trabalhar aqui. Miles Teller é bom, mas detestável e Jai Courtney é ainda mais odioso, bruto e sádico do que no primeiro filme, o que foi excelente, tendo em conta que a personagem exigia isso. Kate Winslet passa da frieza à mais absoluta desumanidade e transforma Jeannine num genocida em potência, ao passo que a sua arqui-rival, Evelyn, foi brilhantemente interpretada por Naomi Watts, dando claramente a entender que não é, nem será nunca, uma boa opção para governar a cidade. Do lado negativo, tive pena de ver a forma como Zoe Kravitz quase desaparece do filme e detestei as constantes mudanças de lealdade da personagem de Ansel Elgort.
Tecnicamente, o filme é visualmente impressionante. A cinematografia é excelente, vibrante e nítida, e adorei as paisagens de uma Chicago semi-destruída e decadente, de rios e lagos secos e prédios devastados. Incrível, porém, pouco coerente: se toda a população humana estava ali, não seria necessário mais espaço? Porque não reconstruir os edifícios? Não tiveram duzentos anos de paz para o fazer? Outra coisa que gostei e achei incrível foram as sequências de acção e de luta. Realmente bem executadas. Os cenários e figurinos foram muito bem feitos, sendo que o destaque vai para a sede dos Cordiais, que parece um misto de plantação futurista e um acampamento “hippie”. A banda sonora também se enquadra no conjunto geral.
Em 14 Feb 2021