Autor: Filipe Manuel Neto
**Um esforço ecuménico que acabou totalmente esquecido… e compreendem-se as razões.**
Este filme está absolutamente esquecido actualmente. Todos nós estamos cansados de ver, nas Páscoas e Natais de todos os anos, filmes bíblicos ou envolvendo Jesus de alguma maneira. Isto não acontece, porém, com filmes acerca do Islão, que para nós em Portugal é uma religião que nos diz pouco (apesar de termos passado boa parte da nossa história, como país, em guerra com povos muçulmanos). Penso que a forma enviesada como vemos a fé muçulmana, fruto dos eventos recentes, do terrorismo e do fundamentalismo, também ajudou a sepultar estes filmes. Este, em particular, tem ainda a desvantagem de a personagem central da trama – Maomé – não poder ser mostrada nem ouvida. Regras da religião islâmica.
O filme relata, resumidamente, a vida e a pregação de Maomé, e a forma como ele se tornou num líder religioso e militar, indo contra as autoridades de Meca, a religião politeísta vigente e a própria família até se impor, pela palavra e – não menos importante – pela força das armas. Uma história real, portanto, que nunca é explorada pelo cinema ocidental devido a pruridos religiosos. Compreende-se: a maioria dos muçulmanos pode ser compreensiva, mas o medo do Ocidente são as minorias radicalizadas, dispostas a explodir bombas no estúdio de cinema que se atrever a mostrar a sagrada orelha do Profeta. Pessoalmente, lidei bem com a ausência da personagem, mas a maioria esmagadora do público ocidental rapidamente descartou o filme.
O esforço de co-produção deste filme foi notável na época. Temos americanos, ingleses, árabes, marroquinos, líbios e outras nacionalidades envolvidas. As dificuldades também foram muitas, e parte do dinheiro para o filme acabou por vir das mãos do presidente Kadhafi da Líbia, o que é bastante insólito, mas compreende-se, na época em que foi. Também apreciei o esforço que a produção fez para ser historicamente rigorosa e fiel aos acontecimentos descritos.
O filme conta com um vasto elenco onde se destaca, naturalmente, Anthony Quinn, no papel de um tio do Profeta, e Irene Papas, que deu vida à vingativa Hind, esposa do governante de Meca, Abu Sofyan, interpretado por Michael Ansara. Os três actores foram os que mais se destacaram e fizeram um trabalho competente com o material que receberam. Mesmo assim, penso que não será o melhor filme de nenhum dos três actores.
Tecnicamente, é um filme muito bem feito e ao nível das superproduções épicas do seu tempo: os cenários foram primorosamente bem feitos, os figurinos são detalhados, tudo exala um certo ambiente de credibilidade e respeito, tanto pela história quanto pela religião de quem acredita na mensagem de Maomé. A cinematografia é um pouco datada e as cores parecem lavadas, mas isso não tirou ao filme a sua beleza visual. A banda sonora é bastante boa e fica no ouvido, e os créditos iniciais são interessantes, com a representação dos fiéis de vários lugares do mundo em que o Islão está presente hoje em dia.
Em 21 Feb 2021