Autor: Filipe Manuel Neto
**Que porcaria é esta??**
Eu estava bastante curioso para ver este filme dado que a versão de 1959 é um dos meus filmes preferidos, e um filme que, muito mais do que uma peça de entretenimento, é um documento histórico, uma peça cultural relevante e digna de preservação e memória. Quando terminei de o ver, estava seriamente a pensar que tudo isto só podia ser uma piada ou uma paródia. O filme de 1959 continuará a ser a versão definitiva, e se alguém desejar algo mais actualizado, eu posso recomendar a mini-série televisiva de 2010.
O filme, dirigido por Timur Bekmambetov, é um pedaço de lixo. Não vou perder o meu tempo a falar do roteiro porque quase toda a gente conhece a história. O que eu posso, no entanto, dizer é que este filme não conseguiu honrar o material original, nem tampouco os seus nobilíssimos antecessores no cinema, bastando para isso a forma quase vil como mastigou e escamoteou a história original. Se a ideia era dar-nos uma nova versão, mais focada na acção, falhou em toda a extensão. Deu-nos uma mão cheia de nada.
Apesar da fraqueza do material recebido, Jack Huston merece nota positiva pela forma como se empenhou e pela maneira como assegura o protagonismo. Não é um bom actor, mas é o melhor que este filme tem para nos dar. Tobby Kebbell não foi capaz de fazer o mesmo porque não foi possível ao actor impedir a sua personagem de se tornar um vilão de telenovela. Há mais de uma personagem que não merece relevância, começando por Ester, e pelo seu pai Simónides, que é rapidamente afastado da trama. Isto não podia ser mais incorrecto. Morgan Freeman é o actor mais prestigiado neste projecto, mas isso não o impediu de ser absolutamente infeliz e de se mostrar apático e desinteressado. Rodrigo Santoro, que deu vida a Jesus, é um canastrão.
Tecnicamente, o filme tem alguns pontos a seu favor, nomeadamente os bons cenários, que até tentam, nalguns momentos e situações, emular o filme de 1959: eu senti isso de modo óbvio ao ver a casa dos Hur, ou o circo onde a corrida tem lugar. O circo tem até os mesmos peixes! Toda a diferença está no realismo: o filme mais antigo não se poupou ao esforço de criar cenários em grande escala, e contratar milhares de figurinos, para um efeito grandioso e monumental. Este filme tentou fazer o mesmo usando apenas o CGI e a famigerada tela verde. Se isso funcionou em alguns momentos, noutros deu ao filme a aparência de um videojogo. Mesmo a corrida de quadrigas, o ponto alto do filme, é tão movimentada que não conseguimos apreciar tudo de modo devido. Parece um excerto de “Velocidade Furiosa”. A cinematografia não é feliz, também, pela ausência de luz e pela forma aleatória com que parece ter sido dirigida. A montagem e edição é irregular, amadora. Os figurinos são feios, e até pouco consonantes com a época, muito particularmente as dreadlocks de Freeman. A banda sonora é esquecível.
Em 12 Jul 2018
