Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme fofo, doce e terno, que importa para os EUA uma história originalmente japonesa e que promete fazer muitas crianças pedirem insistentemente cachorrinhos aos seus pais.**
Não sou um admirador de cães… na verdade, sou uma daquelas pessoas que nunca teve cães, e por isso não desenvolveu grande admiração por estes animais, apesar de reconhecer que são excelentes companhias e podem fazer a diferença para muitas pessoas, em situações variadas (por exemplo, como parte de unidades policiais ou como guias para os cegos). Mas a verdade é que sinto diariamente o quão incómodos podem ser os cães, se calharem em mãos de donos descuidados ou que não os ensinam devidamente: uivam quando sós, fazem imenso barulho quando outros animais passam, correm para cheirar e lamber outras pessoas sem que os seus donos se importem se elas querem ter contacto com os animais e, pior, defecam em qualquer lugar sem que os seus donos tenham o cuidado de recolher os dejectos. Sim, a educação dos donos dos cães, em Portugal, é inexistente na maioria dos casos. A culpa, claro, é inteiramente dos donos humanos imbecis, mas ajudou-me a não nutrir simpatia por estes animais. O justo, nestas coisas, paga sempre pelo pecador.
Porém, até mesmo o ser humano com menor afinidade com cães vai, certamente, reconhecer o valor e a beleza comovente do filme, ligeiramente baseado numa história real que ocorreu no Japão, antes da Segunda Guerra Mundial, e que já deu origem a pelo menos uma produção cinematográfica nipónica, em 1987. O que o filme faz é pegar na história desse filme japonês e transportá-la para os Estados Unidos, contando-a como se tivesse ocorrido em solo americano, mas mantendo diversos elementos, implícitos e discretos, que nos ligam à cultura japonesa (a raça do cão, o nome, até mesmo as artes marciais). Nada tenho contra remakes e tenho de reconhecer que a história verdadeira de Hachiko merecia um filme… mas a verdade é que há uma série de relatos parecidos por todo o mundo atestando a lealdade e inigualável apego de diversos animais para com os donos. Assim, se a ideia era só levar Hachiko para os EUA, talvez tivesse sido melhor que o roteiro tivesse criado uma história nova e totalmente ficcional, ainda que inspirada no verdadeiro Hachiko (e noutros cães).
Feitas todas estas considerações, creio que devemos um louvor a Richard Geere por mais um trabalho excepcionalmente bem feito e muito palatável, em que o actor consegue ser o centro das atenções, numa personagem simpática e que toca muito o nosso lado emotivo. Todavia, e se excluirmos os três cães que participaram neste filme e fizeram o papel do protagonista, não há virtualmente mais nada a dizer acerca do elenco! Os restantes actores só se limitam a dizer o que lhes mandam dizer, sem acrescentar nada de verdadeiramente positivo, nem receberem material interessante e desenvolvido para as respectivas personagens. Isso inclui Joan Allen, a qual parece ter caído neste filme de pára-quedas.
A nível técnico, há vários aspectos positivos a destacar, tais como a cinematografia agradável, a boa escolha de locais de filmagem e o uso inteligente dos cenários e de alguns efeitos visuais e de som. Não é um filme vistoso, mas faz tudo o que pode para tocar o nosso coração e pode até mesmo parecer piegas e sentimental, principalmente mais perto do fim. Eu até lidei muito bem com isso, mas claro que nem todas as pessoas gostarão. A escolha dos animais para este filme foi realmente muito boa, e eles são simplesmente fofos e adoráveis ao extremo. E não nos podemos esquecer daquela incrível banda sonora, baseada em melodias doces de piano. Tudo ajuda este filme a ser excepcionalmente doce e adequado para serões em família. Deixo, porém, uma nota para os pais: se vocês não querem que os vossos filhos vos peçam, de modo insistente, para adoptarem um cachorrinho, não os deixem ver este filme.
Em 03 Aug 2022