Autor: Filipe Manuel Neto
**Longo demais, é um filme lento e morno sobre dois irmãos iguais a tantos outros irmãos.**
A história deste filme é ligeiramente baseada num livro de memórias e conta as peripécias de juventude de dois irmãos com personalidades muito diferentes. Filhos de um pai rígido, que é também o pastor presbiteriano local, os dois jovens cresceram numa área rural do Montana em meio às primeiras décadas do século XX. Norman, o mais velho, é um jovem mais sério, sisudo e ajuizado enquanto Paul, o mais novo, é aventureiro, inconsequente e impulsivo. Porém, apesar das diferenças de personalidade e de rumos de vida, os dois irmãos mantiveram sempre laços fraternos entre si, e um gosto forte pela pesca de rio, adquirido pelo convívio com o pai.
O filme é, numa palavra, morno. A história tem pouco de notável e quase se poderia dizer ser comum, se não fosse pelo fim trágico de um dos irmãos. Compreendo o interesse no tema do amor fraternal e das ligações de família, mas há telenovelas que abordam o mesmo tema de formas mais entusiasmantes e viciantes do que este filme sonolento e mais pachorrento do que um rio vagaroso no Verão. Robert Redford dirige, mas não encanta, e o tom algo monocórdico da sua narração é perfeito para adormecer.
O elenco conta com um nome de grande peso e alguns outros que o circundam, digamos assim. O nome mais pesado do elenco é indubitavelmente Brad Pitt, que ainda era o menino-bonito de Hollywood neste longínquo ano de 1992 e sabia conjugar perfeitamente um intenso talento com a sua cara bonita, uma dose de irreverência e charme, desalinhado e despenteado. Ao ver este filme, foi impossível não comparar o desempenho dele com o que viria a fazer, anos depois, em *Lendas de Paixão*, onde quase parece que o actor retomou a personagem aqui vivida. Craig Sheffer, um actor muito menos renomado, contracena bastante bem com Pitt e ambos formam uma parceria positiva em cena. Tom Skerritt também me pareceu bastante bem no papel do pai de ambos os jovens, muito embora a sua personagem seja excessivamente formal em casa e isso lhe retire alguma credibilidade. O restante elenco limita-se à mediania, especialmente as actrizes, que praticamente aparecem por obrigação.
O filme foi dirigido por Robert Redford, que não é brilhante como director, mas também não é o mais fraco que já vi. Ele soube aproveitar o enredo escasso e imprimir ao filme um ritmo lento, quase como se fosse uma divagação de um homem que recorda o seu próprio passado. É algo interessante, mas duas horas num filme assim é demais e faz com que desejemos saltar por cima de todos os monólogos monocórdicos de Redford e também de todos aqueles diálogos de tom emotivo e carregados de frases-feitas. O filme não tem clímax, nem a morte de uma personagem importante altera o tom do filme, que corre mansamente até acabar. A cinematografia é muito boa e aproveita muito bem as paisagens naturais, a água a correr, o céu e os elementos naturais. Os cenários e figurinos também são muito bons e permitem que consigamos perceber bem a passagem dos anos. A banda sonora não sobressai, mas em troca temos excelentes efeitos de som.
Em 13 Dec 2020