Autor: Filipe Manuel Neto
**Equilibrado, o filme não nos cansa e proporciona bom entretenimento.**
Filmes de desastres e acidentes são comuns, muito embora eu sinta que, nos últimos dez anos, este foi um género pouco explorado. O filme é baseado num incidente verdadeiro em que uma plataforma de perfuração petrolífera enorme sofreu falhas críticas de segurança, acabando por se incendiar e por entrar em colapso. Após investigações, a operação inadequada de uma equipa que deveria colocar um revestimento de cimento no buraco aberto pela plataforma terá sido a responsável pelo sucedido, bem como a falta de manutenção dos equipamentos da plataforma, tudo situações que teriam sido evitadas se a empresa contratante da plataforma, a BP, tivesse realmente sido menos avarenta em relação aos custos e demoras da empreitada.
O filme é bastante bom, oferece-nos um entretenimento de qualidade sem grandes falhas, mas tal não significa que seja isento de críticas importantes. De facto, o roteiro poderia ser melhor se não houvesse uma demora tão grande, no começo do filme, para chegar à plataforma. Fiquei com a ideia de que o filme demora muito a ganhar interesse e perde tempo, nessa fase inicial, com aspectos de menor relevância. Também senti que termina muito abruptamente, sem que se façam grandes considerações, para além das declarações em processo posterior.
Observando a forma como o filme foi estruturado e pensado, torna-se bastante óbvio que Mark Wahlberg foi pensado como protagonista, o actor principal do filme. Porém, a verdade é que o actor se apaga a si mesmo por todo o filme e parece evitar aparecer ou fazer algo que o faça ser heróico e merecedor desse protagonismo. Pessoalmente, acho que é um dos desempenhos mais fracos e desinteressantes do actor, cujos méritos, capacidades ou talento – ressalvo – não estão em discussão. Muito melhor, mais forte, mais impactante e mais presente em tela, Kurt Russell merece um louvor pelo trabalho bem feito. Ele rouba as atenções sempre que aparece ou diz alguma coisa. Também gostei das contribuições de Gina Rodríguez e John Malkovich.
O filme contou com a direcção competente de Peter Berg. Ele nem sempre teve sucesso no seu esforço, há realmente algumas questões de ritmo e de edição que deveriam ter sido trabalhadas melhor, mas acaba por merecer uma nota bastante positiva, muito especialmente se tivermos em conta que conseguiu evitar que um filme tão susceptível a eventuais overdoses de CGI se transformasse numa avalanche de efeitos e recursos técnicos sem suporte de roteiro. Isso é uma falha recorrente nos filmes de desastres, e nós vimos o quanto prejudicaram outras produções, como “2012”, por exemplo. Os recursos estão presentes, o CGI está bem patente no filme e é, de facto, marcante e imponente, mas não é absorvente ao ponto de nos fazer ter a sensação de estarmos a ver algo fictício. Outro ponto de sucesso nos aspectos técnicos deste filme é a subtil harmonia entre a construção e desenvolvimento das personagens e a tensão que, gradualmente e sem pressas, se vai avolumando até ao acidente. Um cenário verdadeiramente realista e bons figurinos e banda sonora completam a composição técnica de um filme que não nos cansa e no entretém sem ser uma obra-prima.
Em 18 Nov 2022
