Autor: Filipe Manuel Neto
**Mediano e esquecível, mas capaz de intimidar o público.**
Quando me preparo para ver um filme dirigido ou escrito por Night Shyamalan, nunca sei o que vou apanhar. Como já disse noutras resenhas a filmes dele, ele tem criatividade mas nem sempre consegue um resultado positivo do seu esforço, passando de genial a pateta num ápice e tendo filmes brilhantes com muitos outros medíocres pelo meio.
Neste filme, dois irmãos vão visitar os avós maternos a fim de a mãe poder ir de férias com o novo companheiro dela. Eles nunca viram os avós, ou pelo menos não estão com eles há anos, e os idosos parecem radiantes e tudo corre bem… até que a avó começa a revelar hábitos um pouco estranhos e tudo começa a parecer tenso. O roteiro joga bem com sinais de senilidade e de alzheimer, usuais entre os mais idosos, para lançar um clima de tensão e de apreensão que se propaga também ao público que está a ver. Porém, fora isso, o filme tem pouca história a contar e doses elevadas de melodrama que destoam um pouco do panorama global. O filme contém uma reviravolta perto do fim como o director costuma fazer. A reviravolta é boa e prepara bem o clímax final, digno de um filme de terror… mas este final é demasiado longo, teria tido mais impacto se fosse mais curto e mais súbito.
O elenco é encabeçado por dois actores jovens, Olivia DeJonge e Ed Oxenbould. Olivia destaca-se claramente, e mostra sinais promissores quanto à sua carreira, se quiser realmente dar-lhe uma continuidade. Os dois avós, Peter McRobbie e Deanna Dunagan, também foram muito bons, verdadeiramente convincentes na forma como deram vida às duas personagens mais velhas do filme. Deana, em particular, merece um verdadeiro louvor. No extremo oposto está Kathryn Hahn, totalmente artificial no papel de mãe. A personagem foi muito mal pensada e soa a falso o tempo todo.
Tecnicamente, o filme é pobre, talvez até o mais pobre dos filmes de Shyamalan que eu já vi, no que diz respeito estritamente aos valores de produção e aspectos técnicos. A ideia de os jovens gravarem depoimentos para uma espécie de documentário caseiro soa a falso e apenas funciona como justificação para um “found footage”. Ao amadorismo total da cinematografia, quase sempre tremida, fora de foco, sem luz ou brilhante demais, contrapõe-se a quantidade de câmaras quase profissionais que os jovens tinham ao seu dispor, e que surgem no ângulo de filmagem umas das outras. Se a ideia era crianças gravarem um filme amador, como se justificam as câmaras serem tantas e tão boas? Tinham pais ricos?
Ok, reconheço que este filme não é um dos piores de Shyamalan. Mas o facto é que também não é um êxito nem merece ser visto mais de uma vez. Com péssimos valores de produção, um elenco pouco conhecido mas capaz apesar disso, uma história fraca, repleta de inconsistências e falhas mas que consegue assustar ou intimidar o público, é um filme mediano e esquecível.
Em 10 May 2020