Autor: Filipe Manuel Neto
**Praticamente um remake.**
Após um excelente filme inicial e uma sequela relativamente pobre, temos a primeira prequela de “Coração de Dragão”. Ambientado na Plena Idade Média, um tempo onde supostamente existiam dragões (é uma versão fantasista do mundo medieval, como se pode ver, e também pela abundância de elementos fantásticos e pouco realistas, no cenário e figurinos), o roteiro conta como um aspirante a cavaleiro trava conhecimento com um dragão nas terras para lá da Muralha de Adriano. Com aquele aliado, e a amizade de um frade e uma corajosa guerreira do povo picto, ele vai tentar derrotar as forças opressoras da Britânia: um nobre feudal tirânico e um feiticeiro mal-intencionado.
Dragões, castelos, feitiçaria maléfica, povos tribais relativamente incivilizados, em meio ao que resta do legado do desaparecido Império Romano. Uma receita que funciona muito bem, ainda que seja totalmente inventada e nos dê uma ideia muito errada do que realmente foi a Idade Média. Mas isso é algo que eu estou disposto a desculpar. O que não é perdoável é o facto de o roteiro voltar a reciclar a história do primeiro filme, nos seus pontos essenciais: voltamos a ter um cavaleiro muito nobre e decente, acompanhado de uma menina bonita e de um dragão, em luta contra um tirano, e de novo a velha história da partilha do coração. Na sua essência, este filme é quase um remake do primeiro filme… mas a magia do original perdeu-se algures.
O filme conta com alguns bons actores. Logo à cabeça, destacaria a excelente desempenho vocal de Ben Kingsley. O actor, um veterano cheio de nobreza e cavalheirismo britânico, é impecável na tarefa de dar voz ao dragão. Uma voz grave, densa, quente, mas com alma e emoção. Julian Morris também foi muito bom no seu trabalho, e estabelece uma boa relação com… o dragão fictício de CGI, invisível aos seus olhos. Tamzin Merchant não desilude, numa personagem que é bastante previsível e cliché, e que nos lembra um pouco uma versão tribal da princesa Xena. Jonjo O’Neill não é mau, mas faz o que outros actores fizeram muito melhor do que ele: dar vida a um vilão medieval arrogante e tirânico. O resto do elenco faz um apoio pontual bem-vindo, mas não tem tempo ou oportunidades de brilhar.
O filme foi produzidor por Raffaella, filha de Dino de Laurentiis, produtor de dois filmes de que eu gosto muito (“Blue Velvet” e “Serpico”) e de uma enorme quantidade de filmes que eu odeio (“Conan”, nas suas várias versões, “Dune”, o original claro, “Barbarella”, “Flash”, etc.); por isso, quando eu vi o nome dela associado a este filme, temi o pior. O filme, contudo, brinda-nos com uma boa cinematografia e com efeitos em CGI bastante satisfatórios, considerando que não é uma produção particularmente abonada. Há bastante acção e aventura aqui. Menos feliz foi a banda sonora, que procura igualar a do filme original, acabando apenas por a copiar.
Em 31 Jan 2023