Autor: Filipe Manuel Neto
**Fiel ao livro, mas cheio de presunção.**
Quando a jovem Mary Shelley escreveu "Frankenstein", ela estava longe de imaginar o impacto que isso teria. Há literalmente dezenas de filmes que abordam a história, mas o cinema nunca conseguiu fazer um filme que fosse fiel ao romance original.
Este filme é o que mais se aproxima, embora também apresente mudanças. Muitas são muito positivas, mas algumas não têm um propósito óbvio e deviam ter sido evitadas. Por exemplo, a personagem Clerval foi tão ignorado que praticamente se tornou um adereço da trama, tal como a maioria da família de Frankenstein. Mesmo assim, este foi um esforço meritório, digno de parabéns.
Apesar disso, o público comete muitos erros ao avaliar o filme. Como o nome "Frankenstein" está muito associado ao terror, o público é levado a pensar que é apenas mais um filme de terror quando, na verdade, é um drama. O erro traz algum público em busca de terror, o qual logo se decepciona mas, deixe-me enfatizar, é um problema do público e não do filme: devemos tentar entender um filme pelo que ele é, não pelo que esperávamos que ele fosse.
Além desse esforço para ser fiel ao livro, o filme tem bons cenários e locais de filmagem, embora alguns dos cenários pudessem ter sido mais fiéis à época em que a história se passa. É o caso da Mansão Frankenstein, que é linda por fora mas cujos cenários interiores tresandam a falso, com aquela escadaria em gritante discordância dos exteriores. Os trajes, por outro lado, parecem mais aceitáveis e historicamente precisos.
O elenco é forte. Claro que, com tantas estrelas, muitas delas não tiveram como brilhar. Kenneth Branagh é muito bom como protagonista, embora algumas vezes seja teatral e antinatural; Tom Hulce foi medíocre como Clerval mas isso é culpa dos maus tratos que a sua personagem sofreu às mãos do argumentista; Ian Holm e Helena Bonham Carter pareceram-me bem; John Cleese, Robert Hardy e Trevyn McDowell cumpriram o papel deles mas não nos encantaram; Robert De Niro fez um trabalho marcante, num registo melodramático, intenso, poderoso e psicológico de uma personagem que, noutros filmes, era só um instrumento de terror, e que ganhou aqui uma alma sofrida e vingativa.
Apesar dos méritos, o filme tem uma falha imperdoável: é melodramático e está cheio de presunção e aspirações de grandeza. Os diálogos e atitudes enfáticas são teatrais. A banda sonora é magnífica mas muito insistente e gosta de aparecer demais. O filme é bom mas está longe de ser épico, e o problema é que parece que ele queria ser um épico. E ninguém gosta muito de vaidade excessiva.
Em 29 Aug 2018