Autor: Filipe Manuel Neto
**Não foi um desastre completo, mas é muito inferior aos filmes anteriores.**
Não estou muito acostumado a filmes que tenham por tema personagens do universo da banda desenhada, mas a qualidade e o impacto que alguns têm tido torna-os visita obrigatória. Assim, e mesmo sem conhecer muito acerca das personagens ou das suas histórias ficcionais, decidi ver os filmes da franquia X-Men. Essa decisão foi seguida de alguma leitura acerca das personagens e dos filmes. Procurei seguir mais ou menos a sequência cronológica dos acontecimentos começando pelas prequelas.
Este filme passa-se em 1992 e começa com uma chamada do presidente dos EUA para ajudar o vaivém espacial, em graves dificuldades numa missão de rotina. Durante esta operação dos X-Men, Jean Gray é apanhada no meio de uma tempestade cósmica estranha que por sorte não a mata. De volta à Terra, Jean irá gradualmente desenvolver sentimentos de confusão e raiva interior incontida que rapidamente preocupam todos, especialmente o Professor Xavier que, perante tudo o que se passa com ela, lhe decide revelar as suas origens familiares, a forma como ela provocou a morte da mãe e como o pai abdicou dela. Perdida, enraivecida, sentindo-se enganada e traída por todos aqueles em quem confiava, Jean parte numa busca solitária por si mesma, acabando por encontrar o seu próprio lado negro.
A saída de Bryan Singer permitiu a Simon Kinberg assumir a cadeira do director e a pena do roteirista. Porém, a perda de qualidade é de tal modo assinalável que não posso considerar a troca positiva, de modo nenhum. De qualquer modo, os maus resultados de bilheteira e em meio à crítica especializada sublinham esta minha opinião. O filme tem um ritmo agradável e foi bem montado, mas desilude-nos pelo roteiro desinteressante, irrealista e sem inspiração, que parece ir beber a filmes mais antigos como *O Confronto Final* e *X-Men: O Início* em vez de nos dar algo realmente novo. Sem sentido de humor, o filme tem menos acção do que os anteriores, apesar de ser bem-feita e verdadeiramente intensa. O filme tem também cargas infindáveis de clichés e melodrama, com frases dignas de uma telenovela mexicana ou brasileira. Os diálogos são verdadeiramente medíocres e têm alguns momentos dispensáveis de puro politicamente correcto, como aquela frase de Raven dizendo, com algum sarcasmo, que Xavier devia mudar o nome da equipa para “X-Woman” dado o peso e protagonismo das mulheres. Pessoalmente, nunca achei credível a história da nuvem cósmica e isso, para mim, prejudicou muito a história e o quanto eu aderi a ela, incluindo as cenas finais, demasiado exageradas.
O elenco é massivamente herdado dos filmes anteriores e é composto por grandes actores, no entanto as personagens não tem a alma e interesse que tiveram até agora. James McAvoy é bom, mas não parece lidar bem com as áreas cinzentas da personalidade da personagem dele, enquanto Michael Fassbender é apenas mediano. Sophie Turner deu vida à protagonista, Jean Grey, mas foi tão dramática que soa horrivelmente mal. Jennifer Lawrence fez um trabalho positivo mas foi rapidamente colocada de lado. Tye Sheridan não podia soar de modo mais melodramático e enfadonho. A vilã, Jessica Chastain, é uma alienígena metamorfa, muito ameaçadora e fria, mas nunca conquista a nossa atenção e o nosso receio. O filme conta ainda com participações medianas ou efémeras de Evan Peters, Alexandra Shipp, Nicholas Hoult e Scott Shepherd.
Além destes méritos, o filme tem valores de produção que importa salientar. É um filme da Marvel e há milhões de dólares envolvidos. Tem uma cinematografia bem feita e uma edição decente, além dos melhores efeitos visuais, de som e de CGI que o dinheiro podia comprar, e que transformam algumas cenas em verdadeiros jogos de vídeo: visualmente incríveis mas sem qualquer alma ou sensação de perigo ou de emoção. Tal como sucedeu quase sempre nesta franquia, o filme tem bons cenários e figurinos. Creio que é justo saudar também o departamento de maquilhagem e a banda sonora.
Em 17 Oct 2020