Autor: Filipe Manuel Neto
**O retorno de Damon à franquia, num filme menos interessante do que seria de esperar.**
Depois de *Legacy* era, creio eu, obrigatório mudar de rumo… batendo no fundo, era a hora de a franquia “Bourne” retomar o curso e voltar a ter alguma qualidade. Para isso, chamaram de volta Paul Greengrass, que assegura desta vez a direcção e o roteiro. O filme não é brilhante, no entanto, consegue cumprir com as expectativas do público, apesar de Greengrass ter perdido a sua frescura e intensidade, brindando-nos com um esforço apático e cansativo.
O roteiro começa com a tentativa de Nicky Parsons para expor publicamente várias operações da CIA. Ela contacta Jason Bourne, que a tenta demover de o fazer. A CIA, porém, estava a seguir o rasto dela, e não foi necessária muita coisa para suspeitarem das intenções e atitudes de Bourne, e voltarem a caçá-lo, como dantes haviam feito. A partir daí, o que o filme nos dá é mais do que já vimos noutros filmes da franquia. O roteiro, contudo, pareceu-me mais simples e mais directo na forma como se apresenta, sem as reviravoltas e subtilezas que os filmes anteriores, por vezes, possuíam. Outra coisa que é necessário dizer: neste filme, a tensão e o ‘suspense’ não são tão palpáveis quanto nos filmes anteriores. Isso, de facto, é algo que lamento, teria feito o filme funcionar melhor.
Para alegria de muitos, e após o seu desaparecimento no filme anterior, Matt Damon está de volta ao papel principal, um dos papéis mais importantes da sua carreira como actor, decisivo na construção da sua carreira. Ele é impecável e está perfeitamente à vontade com o trabalho e o material. Todavia, senti por várias vezes que o restante elenco não tem material nem tempo para ombrear com ele. Vincent Cassell, por exemplo, é um excelente actor e é muito bom neste tipo de personagens, mas a personagem dele é básica, meramente um esboço, e o actor não faz muito porque não tem muito para fazer aqui. Também Tommy Lee Jones tem razões para não ter saudades deste filme. Igualmente talentoso e competente para personagens de acção (quem não se recorda da prestação dele em *O Fugitivo*, há algumas décadas?), simplesmente não recebeu material decente e a personagem dele é subdesenvolvida. Alicia Vikander aparece apenas para dar um toque feminino a um filme cheio de testosterona.
A nível técnico, este filme consegue manter os padrões de qualidade dos filmes anteriores desta franquia. Apresenta uma cinematografia bonita e um trabalho de câmara satisfatório, apesar de uma utilização um pouco excessiva da câmara de mão, com aquelas imagens tremidas. Soube aproveitar da melhor maneira os locais de filmagem, criteriosamente escolhidos, e os efeitos de luz e sombra. O trabalho de edição deixa a desejar, dando ao filme um ritmo desigual, com cenas que demoram excessivamente sem razão aparente. Tal como noutros filmes da franquia, a forte aposta técnica são os efeitos especiais, visuais e sonoros utilizados nas cenas de acção. Tudo é feito com grande rigor e dá ao filme uma sensação de realismo agradável.
Em 22 Aug 2021