Autor: Filipe Manuel Neto
**Se conseguirmos esquecer os erros de recriação histórica e a previsibilidade gritante do roteiro, é um bom filme para um final de tarde ocioso.**
Não conheço muito bem a obra literária de Robert E. Howard, mas confesso que não gosto de “Conan” e sinto que o género fantástico já teve dias melhores. Porém, o que vi neste filme agradou-me: é bom o bastante para nos entreter de modo satisfatório, mas não é o tipo de filme que iremos querer ver mais do que um punhado de vezes.
Solomon Kane é um mercenário interpretado por James Purefoy, num esforço de grande valor. O actor é verdadeiramente bom para o papel: tem carisma suficiente para chamar a si o protagonismo que precisa, não é velho para a personagem nem parece jovem demais. Pete Postlethwaite também é uma adição magnifica ao elenco para mais uma personagem cheia de dignidade e muito simpática. Max von Sydow também dá um apoio discreto. A única pessoa que não gostei muito foi Rachel Hurd-Wood: ela não tem muita coisa para fazer além de estar permanentemente em perigo.
O roteiro começa bem, com uma história sobre um homem cruel que ao longo de anos cometeu saques e crimes, e por fim compreende que irá para o Inferno. A partir daí ele tenta mudar, mas fica cada vez mais evidente que este homem terá de enfrentar o seu passado a qualquer altura, se realmente deseja redimir-se. Isso acontece por fim quando ele tem de derrotar um bruxo maléfico. Não quero dizer muito mais, mas é bastante fácil de ver que o grande problema deste roteiro é a forma como nós antevemos facilmente o que se vai passar, a previsibilidade da história toda. Isto é o grande problema do filme.
Um outro problema deste filme é a forma como o passado foi recriado: não senti, da parte da produção, vontade em situar a acção precisamente, no tempo e no espaço. O roteiro, porém, exigia isso! É bastante evidente que a história se passa por volta de 1650 nos campos do Sudeste de Inglaterra, em Dorset. A construção dos cenários, figurinos e adereços simplesmente ignorou isto sempre que pôde. A cinematografia, por exemplo, é magnificamente trabalhada e brinda-nos com paisagens nebulosas, sombrias e escuras, e lugares semiarruinados. Não temos qualquer semelhança com o campo inglês, mas é o cenário ideal para a história sombria que se vai desenrolar e cria ambiente de modo bem inteligente. Estilos de luta anacrónicos, armas e adereços anacrónicos, vestuário que não se parece com nada que tenha existido no passado, pistolas de pederneira cujo efeito de som se assemelha ao de um revólver… M. J. Bassett comete diversos erros. Em troca, há muita acção, lutas para todos os gostos que dão ao filme bastante fluxo e movimento, como se fosse um videoclipe, e um excelente CGI que cria uma vasta multiplicidade de criaturas maléficas.
Em 03 Dec 2023
