Autor: Filipe Manuel Neto
**Humor simpático e pancadaria impressionante num filme muito mal feito, mas que entretém o público.**
Apesar de eu conhecer o actor de outros filmes, este foi o primeiro filme de Jackie Chan que vi. Ele dá vida a um simpático jovem de Hong Kong que vem até aos EUA para o casamento do seu tio, há muitos anos a residir no Bronx, em Nova Iorque. Durante a sua estadia, ele verá o tio vender a sua loja, a fim de se reformar e passar a velhice num rancho, e também terá de fazer frente a um gangue de motoqueiros e a uma organização mafiosa que perdeu um saco de diamantes que acabam em poder da personagem interpretada por Chan. Claro, vai acabar tudo em porrada.
O filme é bastante bom na sua tarefa, simples e directa, de entreter o público. Há uma mistura agradável, e bem medida, de humor e acção. As piadas são bastante ingénuas, mas funcionam e dão ao filme um toque familiar e simpático que agrada sem o tornar numa comédia de ir às lágrimas. As cenas de luta são o prato forte, e vale a pena ver as lutas altamente coreografadas que Chan trava com dez ou vinte adversários em simultâneo, e nas quais emprega todo o seu conhecimento de artes marciais. Porém, não tenhamos ilusões: o filme mostra as cenas de luta um pouco mais aceleradas que na realidade, o que amplifica o efeito, mas tira verosimilhança ao que estamos a ver.
Chan é simpático e talvez um dos mais palatáveis actores do vasto universo de estrelas cujas carreiras foram alicerçadas em filmes de pancadaria (Van Damme, Chuck Norris e outros). Ele merece uma nota boa, quer pela interpretação, quer pelas cenas de luta. Infelizmente, é o único actor que merece destaque porque os outros são todos bastante amadores. Mas que ninguém pense que Chan nos dá uma aula de representação dramática! Ele faz o que se espera que ele faça: ser engraçado e bom na porrada. É Jackie Chan, não é o Lawrence Olivier. Anita Mui e Françoise Yip estão aqui simplesmente porque o filme precisava de umas caras bonitas.
O roteiro é bastante fraco, uma mera desculpa para doses elevadas de comédia e porrada para todos os gostos. A pobreza do roteiro é tal que, a meio do filme, nós já esquecemos o nome das personagens e o porquê de Chan ter vindo aos EUA. São questões que sentimos logo que não têm relevância (ou melhor, que foram consideradas irrelevantes neste filme). Os vilões são realmente fracos – os mafiosos parecem medrosos e o gangue de motoqueiros é ridículo. No entanto, tudo isto é relativamente perdoável quando pensamos no péssimo trabalho de edição que foi feito neste filme. Os cortes não podiam ser mais óbvios e mal colocados. Há cenas que parecem inseridas à martelada, outras aparecem subitamente, ou acabam de modo repentino, tal como o próprio filme, que termina de modo tão súbito que parece um episódio de série de TV e não um filme para o cinema.
Em 23 Apr 2023