Autor: Filipe Manuel Neto
**Talvez um pouco superestimado, mas não há dúvida de que é bom.**
Bem, tenho de começar este texto com uma nota que creio ser relevante para entender o que vou escrever: este foi o primeiro filme japonês que me recordo de ter visto. Posso até estar a esquecer-me de algum que tenha visto antes, mas penso que não. Portanto, eu não sou um bom conhecedor do cinema nipónico, pelo que não quero que a minha opinião seja tomada com uma qualquer autoridade a que eu não almejo. Eu sei que há pessoas que desejam isso. Eu não. Eu falo, como em qualquer das minhas críticas, apenas pela minha boca, do alto da minha escassa sabedoria, sem pretensões. Posso estar certo numas coisas, errado noutras, mas isso é a coisa mais normal do mundo.
Eu decidi ver este filme por ser altamente recomendado e bem considerado… toda a gente dizia que era um filme muito bom e, por isso, decidi-me a ver por mim mesmo. Acabei de o fazer, e de ler um pouco acerca do filme e do seu director, o famoso Akira Kurosawa. O filme é realmente uma obra que está acima da mediania, mas não é o tipo de filme que agrade a todos, e parece-me estar a ser um pouco sobrevalorizado, o que resulta em prejuízo. Eu digo isso porque senti, em vários momentos, que o filme falhou em ir ao encontro das minhas expectativas, sendo que eu sou bastante neutro, isto é, nem adoro este tipo de filmes nem sinto repugnância em vê-los.
O roteiro ambienta-se, sensivelmente, nos meados do século XVI, altura em que o Japão estava dividido em feudos e reinos, e havia frequentes guerras intestinas nas quais o samurai tomava parte. Claro, num ambiente assim, quem se sacrifica é o povo, e os mais humildes sempre foram os mais susceptíveis a abusos dos poderosos. É isso que temos aqui, com uma aldeia rural que é regularmente saqueada e devastada por um bando armado até se decidir a contratar um grupo pequeno de samurais errantes para a ajudarem a defender-se. Eles conseguem esse objectivo, e nós somos convidados a ver todas as peripécias que ocorrem na preparação da defesa e nos treinos marciais daqueles camponeses.
Vou fazer de modo diferente e começar por dizer os aspectos que me pareceram mais positivos. Primeiro, parece-me que Kurosawa é realmente meticuloso no trabalho que fez e tem carinho e muito respeito pelas tradições e história do seu país. De outro modo, não se compreenderia o esforço e dinheiro que foram empatados num filme com tamanha carga histórica e cultural. Até que ponto este seu gosto pelo realismo não terá tido influência no cinema europeu, ou vice-versa? Estou certo que há estudantes de cinema que já discutiram isto. O que posso afiançar é a aposta no realismo, visível, por exemplo, na extraordinária concepção dos cenários e figurinos, e na cinematografia estática, mas muito elegante e nítida. O roteiro é bastante sólido, e dá-nos uma história extraordinariamente credível e personagens muito bem construídos e marcantes. Não conheço bem os actores, mas creio que Toshiro Mifune merece um aplauso pelo empenho e pelo trabalho que aqui desenvolveu. É um actor que capta a nossa atenção de modo natural e tem um carisma que sobressai sem qualquer esforço.
Pela negativa, contudo, também temos vários aspectos a apontar, começando pela duração do filme, com mais de três horas e meia. Lamento dizer, mas sinto que o roteiro não justifica tanto tempo, e que Kurosawa não trabalhou bem o ritmo do filme. Com uma edição mais restrita, ele teria conseguido reduzir o filme, sem grandes perdas, para duas horas, e torná-lo menos pesado e desgastante. Não precisamos de ver cada debate na aldeia ou cada peripécia de treino militar. Também não gostei das tentativas de humor introduzidas no filme. Simplesmente, não tinham piada alguma. A excessiva previsibilidade da história contada também acaba por ser um defeito. Também não gostei da virtual ausência de banda sonora. Já vi isso noutros filmes, e nunca fui particular apreciador desse recurso estilístico.
Em 25 Nov 2022