Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme corajoso e algo cínico, que tem alguma qualidade.**
Neste filme, um pastor evangélico realiza o seu último exorcismo depois de uma vida inteira de mentiras, em que fez exorcismos e curas falsas só para ganhar dinheiro. O que Cotton Marcus não esperava é que o último exorcismo fosse, na verdade, o único em que enfrentaria um mal verdadeiro, no qual ele já nem acreditava.
Desde o início, o filme esclarece que estamos a ver um "mockumentary", isto é, um falso documentário inacabado e com uma falsa edição de imagem, ao melhor estilo dos filmes "found footage". O filme também faz críticas muito duras e pouco implícitas às igrejas evangélicas e neo-pentecostais, tendo coragem para dizer algo que nós já sabemos mas raramente dizemos em voz alta: que muitas dessas igrejas existem só por dinheiro, transformando-se em indústrias de fraude e extorsão, tratando Deus como se fosse um advogado ou médico com um escritório, onde só se atende o cliente mediante pré-pagamento. Por outro lado, há muitas pessoas com problemas psicológicos ou distúrbios de saúde que acreditam que estão possuídas ou sob a ameaça de demónios sem que esse realmente seja o problema. Com base nessas premissas, o filme mostra como o falso exorcista lida com um caso de possessão real, para o qual não está minimamente preparado por causa da falta de fé e oportunismo.
Embora o filme seja lento de início, isso é necessário para explicar o contexto do que vai acontecer e para o público se prender às duas personagens centrais. O exorcismo foi intenso e realista, mais próximo de um exorcismo real do que a maioria dos filmes de terror que abordam o tema. O final, aberto é propositado, adapta-se ao estilo do filme deixando espaço para a sequela que foi feita depois. No entanto, pode deixar muitas pessoas desapontadas porque não é plausível na maneira como termina.
Patrick Fabian esteve muito bem no papel do Pastor Marcus, sendo totalmente capaz de mostrar o seu conflito interno, as suas dúvidas e o seu total despreparo para lidar com Nell, a jovem possuída, interpretada por Ashley Bell. Jovem mas promissora, a actriz era ao mesmo tempo amorosa, adorável e perfeitamente aterrorizante quando possuída.
Em suma, este não é um filme perfeito e está longe de ter uma qualidade excepcional, mas foi um bom esforço, tem mérito e coragem. Vale a pena assistir.
Em 28 Jun 2018