Autor: Filipe Manuel Neto
**Entre altos e baixos, o filme consegue desembaraçar-se positivamente.**
Este filme de adolescentes (um dos géneros cinematográficos mais abomináveis que conheço) foi feito para parodiar alguns filmes de terror conhecidos. A vítima mais clara foi o filme de Wes Craven *Gritos*, mas se estivermos com atenção vamos ver cenas que satirizam outros filmes como *Sei o que Fizeste no Verão Passado*, *Projecto Blair Witch* ou *Sexto Sentido*. Curiosamente (ou talvez nem tanto), o título de trabalho de *Gritos* foi *Scary Movie* e o estúdio responsável pelos dois filmes é o mesmo: a Dimension Films. Falar do enredo aqui seria não só redundante como me parece um erro: julgo que ao citar a maior parte dos filmes parodiados já deixei pistas suficientes sobre o enredo. Quem quiser saber mais, que veja o filme.
O filme é uma sátira, foi feito para entreter e é claramente dirigido ao público jovem, portanto é melhor não estar à espera de algo complexo ou de um espectáculo dramático. Este não é um filme pensado para ganhar Óscares ou coisa parecida. É um filme para fazer rir, para o riso fácil de adolescentes que não pensam muito, adoram piadas escatológicas ou sofrem de uma séria obsessão por tudo o que seja relacionado à sexualidade. Mas isso não significa que é um filme mau ou abominável, como muitos filmes para adolescentes realmente são. Na verdade, revelou-se um filme agradável, que não dá para rever muitas vezes nem nos faz rir à gargalhada (embora isso varie consoante cada pessoa), mas vai arrancar sorrisos aos mais circunspectos. Para mim, o filme tem coisas boas e más: não gosto de um humor tão brejeiro, mas é impossível não rir com algumas das situações mostradas. O facto de parodiar filmes de terror também ajuda, embora a escolha dos filmes parodiados seja discutível.
O elenco é liderado por Anna Faris, e ela faz um trabalho satisfatório, assim como Regina Hall e Jon Abrahams, Marlon Wayans e Shawn Wayans são decentes o suficiente, mas não ultrapassam a mediania. Carmen Electra não funciona como actriz, aparece só para mostrar o decote sempre que necessário, e Shannon Elizabeth não é muito melhor que ela. Mas quem verdadeiramente se sai mal neste filme é Dave Sheridan, graças à personagem horrível e ofensiva que lhe calhou. Há um limite entre ser politicamente incorrecto e ser ofensivo, e a personagem Duffy passa por cima desse limite pela forma insultuosa como retracta um homem mentalmente retardado. E nem vale a pena mencionar o facto de a personagem ser irritante e não ter graça nenhuma.
Em 23 Jan 2021