Autor: Filipe Manuel Neto
**Uma tentativa de fazer mais uma franquia distópica com adolescentes…**
Este filme foi mais uma aventura adolescente em ambiente distópico e pós-apocalíptico, pensada para tentar começar uma franquia capaz de encher os cofres a uns quantos donos da indústria cinematográfica. Semelhante a filmes como “Divergent” ou “Maze Runner”, é claramente mais fraco do que qualquer um deles, apresentando uma premissa coxa que deu azo a uma história cheia de buracos e que não é difícil questionar. Teoricamente, tudo começou com uma pandemia que matou metade das crianças (porquê só crianças?) dos EUA (porquê apenas nos EUA?). As crianças sobreviventes, no entanto, desenvolvem uma série de poderes mentais invulgares como inteligência sobre-humana, controlo mental, controlo do fogo ou da electricidade. Não entendo porque não há mais poderes, tais como hipnose ou telepatia, e entendo menos ainda a ideia de colocarem as crianças todas em prisões por medo durante anos a fio. Mesmo numa ditadura – e os EUA ainda não são uma ditadura mesmo que o actual presidente seja virtualmente um aspirante a ditador – isso daria muita revolta popular. E também não seria assim tão difícil para um governo todo-poderoso ter pleno conhecimento de um campo de férias onde adolescentes rebeldes e foragidos vivem e dançam uns com os outros.
Realmente, é no argumento escrito que eu encontro os maiores problemas deste filme, e a razão pela qual ele nunca deu origem a uma franquia bem sucedida. A história, muito mal escrita e desenvolvida, é quase um insulto à inteligência do público mais exigente, e só dificilmente é engolida por pessoas mais tolerantes. A nível técnico, a cinematografia é excelente e a luz e sombra são muito bem trabalhadas. Os cenários foram concebidos com imaginação e inteligência e a banda sonora é demasiado boa para um filme com tão pouca história para a sustentar. A direcção não é ineficaz, mas falha em muitos aspectos, especialmente na segunda metade do filme, que é muito mal concebida e apressada. O final tem uma reviravolta ou duas, quase todas elas muito fáceis de prever, e deixa já tudo preparado para a sequela que teria sido feita se este filme não tivesse sido um fracasso.
No meio disto tudo, o elenco faz o que pode com o que lhe foi dado: o material dado aos actores é mau, as personagens são francamente subdesenvolvidas ou resumidas a meras figuras de corpo presente, os diálogos são desinspirados e desanimadores e não há dúvida de que muitos actores se terão sentido mal aproveitados aqui. Amandla Stenberg é boa e dá ao filme alguma frescura, especialmente quando contracena com Harris Dickinson. Os dois são ainda bastante jovens e têm muito por onde melhorar os seus talentos, mas este filme permitiu-lhes mostrar garra, força de vontade e capacidade. Gwendoline Christie e Mandy Moore têm muito pouco para fazer aqui, e são das actrizes mais subvalorizadas pelo projecto.
Em 14 Apr 2025
