Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme brutal, onde não há pessoas simpáticas, nem bonzinhos, mas que nos conta uma boa história, de forma convincente e credível.**
Esperava mais qualquer coisa deste filme. É bom, tem uma história interessante, mas é morno e incómodo, não havendo muito que desperte a nossa simpatia. Já vi muitos filmes, não tenho bem a certeza se este foi o primeiro filme australiano que vi, mas foi, seguramente, o primeiro filme australiano que eu sabia ser australiano no momento em que o estava a ver. Inspirado numa situação real, o filme cria uma história em que a polícia procura capturar os membros de uma família bem inserida na criminalidade de Melbourne. Para o conseguir, procuram a ajuda da pessoa mais equilibrada daquela família: um jovem adolescente.
O filme é bom, o roteiro está bem escrito e tem uma série de reviravoltas muito boas, mas não é um filme simpático ou agradável. As personagens são muito duras e antipáticas, e a violência e o crime são parte significativa da vida delas, de uma forma que parece, quase, assemelhar-se a um “negócio de família”, orgulhosamente transmitido. Josh, o protagonista, é talvez quem mais depressa moverá a nossa simpatia, mesmo sendo introvertido demais para criar uma boa química com o público. Mesmo os polícias, com a sua brutalidade e crueza, estão longe de ser os heróis, havendo apenas uma distância muito ténue que os diferencia dos bandidos.
Gostei da performance de Ben Mendelsohn, que deu vida ao membro mais brutal e dominante daquela família, um homem que a própria polícia parece ter jurado de morte, e que não pensa duas vezes se tiver de matar. Jacki Weaver é igualmente poderosa e muito boa ao interpretar a matriarca da família, uma mulher que parece orgulhosa do percurso criminal dos filhos e que não olhará a meios para os proteger, independentemente daquilo que eles façam. Não foi por acaso que ela foi indicada ao Óscar como Melhor Actriz Secundária. Também Guy Pearce foi ao encontro do desafio proposto e fez uma excelente performance no papel de um convencional detective da polícia. O filme conta ainda com um bom trabalho dramático de Joel Edgerton, de James Frecheville e de Sullivan Stapleton.
Tecnicamente, é um filme discreto, que aposta mais num roteiro forte e num bom trabalho do elenco do que, propriamente, em qualquer tipo de artifício visual ou artístico. Mais do que um trabalho visual, este filme procura contar uma história – uma história rude, incómoda, triste e ácida, mas bem escrita e intensa. A cinematografia é regular, a edição também, os cenários e os figurinos são o que se podia esperar encontrar aqui. Os efeitos especiais, visuais e sonoros usados são discretos, mas funcionais.
Em 03 Aug 2022