Do Que os Homens Gostam

Autor: Filipe Manuel Neto

**Não é mau, podia ser melhor em muitos aspectos, mas cumpre o seu papel: entreter.** *O Que as Mulheres Querem* foi uma das melhores e mais marcantes comédias dos raiar do novo século, e tem-se mantido relativamente actual e fresca. Filmes assim geram seguidores e, não raras vezes, imitadores. Este filme, não obstante imitar e se inspirar directamente nesse, acaba também por vir na esteira de uma série de filmes semelhantes (por vezes com o mesmo nome), que recua até aos primórdios do cinema. É verdade, parece que os cineastas andam a tentar compreender a cabeça masculina há muito tempo. Neste filme, acompanhamos a combativa e intempestiva Ali Davis, uma mulher habituada a sobreviver (e a impor-se) num mundo de homens. Ela trabalha numa firma de agenciamento de atletas desportivos e a promoção é um sonho há muito acarinhado. Todavia, quando ela é preterida por outro colega, apesar de sentir que merecia ser promovida, ela perde a cabeça. Nesse mesmo dia, uma estranha sucessão de eventos leva a que, na manhã seguinte, ela acorde com a assustadora capacidade de ouvir pensamentos dos homens… e não tardará para ela compreender que adquiriu uma arma poderosa para conseguir tudo o que sempre quis. Porém, o novo poder vai, também, pôr à prova a sua capacidade de se relacionar com os outros, começando com as suas amigas, o seu assistente ‘gay’ e o caso de uma noite por quem acabará por se apaixonar. O filme não é mau. É uma adaptação que, por vezes, soa mal, e funciona de maneira forçada, e vai ser mesmo necessário, às vezes, um esforço de bondade por parte do público para ignorar as falhas e todas as incoerências do comportamento das personagens. Mas eu, confesso, fui capaz de tudo isto e o filme acabou por funcionar, ainda que com dificuldade. Não, de facto não é um filme mau, mas está longe de ser bom. Além de tudo isto, o filme por vezes falha redondamente em ser engraçado e fiquei com a ideia de que a mente masculina é muito mais complexa do que aquilo que foi apresentado aqui. De facto, estou convicto que alguns homens achariam insultuoso se uma mulher presumisse que os homens só pensam em sexo, futebol, inutilidades, farra e comida. Taraji Henson é a alma do filme, e é a sua capacidade para fazer alguma comédia bem-feita e para tornar a sua personagem agradável que, em última análise, ajudam o filme a rolar melhor. Ela é engraçada e foi capaz de fazer a personagem dela evoluir favoravelmente, tornar-se mais humana e compreensiva, mas a maneira histriónica, ruidosa e gritada com que se apresenta torna-se cansativa ao fim de algum tempo. Gostei, mesmo assim, da excelente parceria com Josh Brener. Ambos trabalharam bastante bem juntos, e Brener é muito bom no seu papel. Tracy Morgan também é histriónico e paranóico, mas acaba por ter menos piada que Henson. Aldis Hodge também fez um trabalho muito bem feito, mas senti que tinha um papel que lhe dava relativamente pouca coisa para fazer além de ser o interesse amoroso da personagem principal. Tecnicamente é um filme regular, que não tem nada de particularmente notável: a cinematografia padrão e a edição bem feita não apresentam nada de particular. Os cenários e os figurinos são bons, estando nos padrões do que se poderia exigir num filme deste género. Gostei especialmente do cenário corporativo da empresa e, também, do estúdio da médium/traficante de erva. Também gostei bastante dos créditos finais, com um interessante ‘design’ digital e várias cenas extra.