Autor: Filipe Manuel Neto
**Seria bom, se não fosse um filme da franquia “Bourne”.**
Depois de três bons filmes, a franquia “Bourne” parece estar lançada sobre sólidos alicerces, e o sucesso dos filmes seguintes parece garantido. De facto, franquias assim transformam-se em máquinas de fazer dinheiro para os estúdios… mas o que eu encontrei neste filme é algo capaz de desiludir o mais ferrenho fã da franquia: é um filme “Bourne” sem Jason Bourne.
De facto, o roteiro foca-se inteiramente em Aaron Cross, uma personagem completamente nova e desconhecida para nós, cujo percurso como operacional da CIA parece iniciar com “Outcome”, outro programa ultra-secreto da agência, especializado na modificação da psicologia e dos comportamentos através de determinados fármacos. Quando o programa é descontinuado por ordem superior e todos os envolvidos são assassinados, Cross faz o que pode para fugir e salvar a vida.
O filme não é realmente assim tão mau, se esquecermos os filmes anteriores e a sua ligação, extremamente forçada, à franquia Bourne. Começa muito devagar, mais que qualquer um dos que o precederam, e há muitos pontos onde a história soa confusa e desconexa. Mesmo assim, vai-se desembaraçando e o final funcionou de maneira relativamente eficaz. A direcção de Tony Gilroy revelou-se bastante menos interessante e original que a do seu antecessor, com quem ele colaborou directamente, e o roteiro, que ele também assegura, é bom o suficiente, mas está longe da qualidade conseguida anteriormente. Há também alguns problemas de montagem e cenas que parecem estar ali apenas para ocupar tempo.
Sem Matt Damon e a personagem título da franquia, o filme parece constantemente deslocado. Podem dizer o que quiserem… se um filme se associa tanto a uma personagem torna-se difícil conceber uma sequela ou prequela em que ela não apareça de alguma maneira, ainda que seja mais jovem ou mais idosa… Jeremy Renner faz o que pode para nos tentar fazer esquecer esta ausência, mas não consegue, apesar de ser um actor talentoso e de fazer um bom trabalho aqui. No elenco, ele é indubitavelmente quem mais consegue destacar-se e brilhar. Rachel Weisz não é tão boa: a actriz trabalha como pode, mas o material que recebe é mau e a personagem nunca se desenvolve adequadamente. Edward Norton é desinteressante e parece estar desconfortável com a personagem. É, sem dúvida, o pior trabalho deste actor, pelo menos no que diz respeito a tudo o que eu já vi até hoje.
Tecnicamente, é um filme intenso e onde há muitas qualidades redentoras: a cinematografia é elegante e bem construída, aproveitando o melhor dos locais de filmagem. A montagem, como eu já disse, deixa a desejar, assim como o ritmo do filme, mas isso é contrabalançado por uma boa selecção de efeitos especiais, visuais e sonoros, e por um uso criterioso e bem pensado do CGI. As cenas de acção não são tão impactantes quanto as que vimos em filmes anteriores, e as perseguições parecem-se demasiado com o que já vimos nos filmes “Bourne” anteriores.
Em 22 Aug 2021