Autor: Filipe Manuel Neto
**Uma boa ideia, arruinada pela má construção das personagens.**
Este filme foi muito insuflado pela publicidade, que criou uma enorme expectativa em torno dele, tornando-o parcialmente vítima disso. Falaram de David Fincher como um director de primeira classe, coisa que acho que ele nunca será. Falaram da excelência do elenco e, na verdade, só dois actores (Brad Pitt e Cate Blanchett) é que realmente merecem este adjectivo. Aqui em Portugal, as pessoas têm um ditado, que afirma que "presunção e água benta, cada um toma a que quer". Eu acho que isso se aplica perfeitamente a este filme ou, pelo menos, à publicidade que foi feita.
O filme adapta uma história de F. Scott Fitzgerald, que eu nunca li para julgar. O roteiro, de Eric Roth (argumentista de "Forrest Gump", um filme que - surpresa, surpresa - tem algumas semelhanças com este) está longe de ser extraordinário. O problema com esta história é o desenvolvimento das personagens, particularmente a principal, com o qual pessoalmente nunca senti empatia. Apesar de ser uma pessoa totalmente diferente das outras, Benjamin Button é um homem que não mostra quem é. Apenas mostra o que faz, onde vai, etc. Nunca percebemos porque nasceu velho e rejuvenesceu, ou o relacionamento desse fenómeno com um relógio antigo que dá o tempo às avessas (não sabemos se existe uma ligação sequer). Nunca conhecemos os seus pensamentos e a psicologia, potencialmente rica, de uma pessoa tão diferente. E o mesmo se passa com todas as personagens. Isso faz deste filme uma história superficial, impessoal, que nunca nos toca de forma mais profunda.
Tecnicamente, é um filme regular, dentro do que Hollywood nos acostumou. Os efeitos de maquilhagem (em particular os que envelheceram Button) agradaram-me, tal como os cenários e como conseguiram encaixar-se nas várias épocas e mostrar a passagem das décadas. Quanto ao trabalho dos actores, é bom mas não excelente. Eu acho difícil, com personagens tão pobres, ter uma performance inspirada. O esforço de Pitt e Blanchett, no entanto, merece mérito.
Em 18 Mar 2018