Autor: Filipe Manuel Neto
**Terrivelmente mau.**
Há alguns anos, surgiu uma série de filmes para adolescentes e jovens adultos que, a partir das fábulas e contos tradicionais, criaram histórias novas, carregadas de aventura, de acção, de CGI. Foi uma moda passageira que nos deu uma série de blockbusters como *Branca de Neve e o Caçador* (2012), *Hansel & Gretel: Caçadores de Bruxas* (2013), *Drácula: A História Desconhecida* (2014) e outros. Alguns foram mais bem-sucedidos, outros caÃram rapidamente no esquecimento e não se fala muito deles agora, cerca de dez anos depois. Este é um dos filmes que acabou por ficar para o esquecimento.
O problema do filme começa quando a directora Catherine Hardwicke resolveu tentar reeditar o sucesso estrondoso que conseguiu, anos antes, com a franquia *Crepúsculo*, utilizando por base a história intemporal do Capuchinho Vermelho: nada mais fácil do que tornar a inocente e pouco obediente menina da história clássica numa adolescente de sangue quente que, a contragosto da sua famÃlia, vive uma paixão escaldante com um rapaz da mesma aldeia, uma aldeia que não sabemos onde fica, mas está isolada em meio a uma floresta densa onde habita um lobisomem. E temos os elementos para uma história apelativa aos jovens, cheia de acção, lutas, ‘suspense’ e, claro, apelativos sexuais que só não vão mais longe porque é um filme para jovens.
Para falar do elenco temos primeiro de falar em algo que me costuma incomodar muito sempre que vejo um filme de época: os erros de anacronia. Partindo do princÃpio que o cinema é um campo de entretenimento, procuro ser razoável com isso, mas valorizo um filme que respeite o passado. Há erros que podem ser perdoados: o tipo errado de arma, comida que não existia na época… mas é mais difÃcil perdoar se todo o elenco resolve comportar-se como se estivesse no século XXI. Infelizmente, é isso que acontece aqui, e vem somar-se a um péssimo material e aos maus diálogos dados à s personagens.
Amanda Seyfried é linda e o filme sabe explorar os atributos da actriz. Porém, ela é uma rapariga do século XXI, vestida com roupas medievais. Shiloh Fernandez e Max Irons nem sequer tentam parecer medievais e Lukas Haas podia ser tudo menos um padre. Mais estranho ainda é ver Gary Oldman dar vida a uma personagem hÃbrida, que mistura um caçador de bruxas e um inquisidor fanático com um bispo católico, de vestes roxas e cruz peitoral, a que falta só a mitra, o báculo e a capa! Há boas actrizes (Virginia Madsen, Julie Christie) com personagens totalmente insÃpidas e sem interesse. A inserção de actores negros é sinal da sua integração racial, mas a Idade Média não era politicamente correcta e nada me ajuda a entender o que fazem eles no meio da Europa Central medieval, retrógrada e isolada a pessoas vindas de tão longe. Foi um erro de casting que o roteiro nem se preocupa em explicar. Para quê?
É nos aspectos técnicos que o filme encontra alguns elementos redentores: a cinematografia é verdadeiramente boa e aproveita bem elementos como o fogo, a luz bruxuleante das velas, as sombras de uma casa rústica, um ambiente enevoado e sombrio da floresta. Os cenários e até os figurinos cumprem bem com o seu papel, muito embora a despreocupação da directora com a cronologia tenha dado azo a uma mistura de péssimo gosto de elementos medievais de várias épocas e momentos distintos (lembre-se que a Idade Média durou praticamente mil anos). As cenas de acção e de luta funcionam e ajudam a dar ao filme algum movimento, inserem-se mais no contexto do filme do que aquela breve tentativa de cena de sexo de Seyfried na palha, e que só servirá para manter os rapazes bem atentos ao decote dela. O CGI, e especialmente o lobo, é algo decepcionante e a banda sonora é péssima.
Em 25 Sep 2021