Autor: Filipe Manuel Neto
**O mau gosto deixa-me geralmente de mau humor.**
Há boas comédias românticas, e eu já tenho vindo aqui deixar as minhas notas acerca de algumas das que fui vendo. Esta, infelizmente, não é uma delas. Enquanto comédia romântica, está basicamente ao mesmo nível de “American Pie”, que é um filme que detestei devido ao humor rude e básico, e à tremenda ausência de bom gosto e de bom senso. Parecem ser dois filmes feitos para o mesmo tipo de público.
O filme é, essencialmente, sobre o reencontro de um casal. Eles foram namorados no liceu e passados mais de dez anos ele ainda não a esqueceu, pelo que decide contratar um detective para tentar reencontrá-la. O detective, contudo, apaixona-se por ela e decide aproveitar a situação. Está montado o palco para toda uma série de peripécias supostamente cómicas que levarão, forçosamente, ao reencontro de Ted e Mary. E se esta breve nota já deixa dúvidas quanto à qualidade da história contada, isso é claramente mau sinal. É um enredo sem qualquer importância, básico e mal escrito, que serve apenas de pretexto para uma sucessão de piadas de mau gosto e de “sketches” humorísticos que hoje encontraríamos no Youtube ou num canal de TV pobre. É difícil não rir (algumas piadas podem ser eficazes), mas tanto pode ser um prazer culpado para uns, quanto um filme que, mesmo conseguindo arrancar gargalhadas, acaba por não justificar a nossa atenção.
Dirigido pelos Irmãos Farrelly, o filme é subtil como uma luva de boxe, e os aspectos técnicos limitam-se ao mais simples que pode haver. Se as piadas são básicas, os diálogos não são melhores e a edição parece tosca. A concepção das personagens é paupérrima e apresenta-nos uma série de clichés de humor pobre e de baixa moral, com humor escatológico, humor negro e larga abundância de trocadilhos de teor sexual. Tendo tudo isto em vista, a escolha dos actores foi a mais adequada: Ben Stiller está totalmente à vontade com este tipo de material cómico e limita-se a fazer o que faz sempre que lhe dão estas coisas para as mãos. Matt Dillon também não está muito diferente, embora exagere e pareça histriónico e caricatural durante a maior parte do tempo. Lee Evans é particularmente bom com a comédia física, mas nunca vai além disso. Por fim, a estrela do filme, Cameron Diaz… ela dá-nos indubitavelmente a melhor interpretação do filme, e parece que a actriz está realmente a divertir-se com este trabalho, mas a verdade é que não pode fazer milagres sozinha.
Em 08 Mar 2025