Autor: Filipe Manuel Neto
**Um excelente filme familiar com uma alma musical e elegante.**
Este filme passa-se nos meados do século XX, num reformatório francês para crianças órfãs ou que tiveram problemas judiciais. A história é bastante cliché, mas é extremamente eficaz para o filme e funciona maravilhosamente: é a passagem, em flashback, de um professor por aquele reformatório. Ele sentiu imediatamente o clima de repressão e de raiva vivido na instituição, e alimentado pelos métodos brutais da direcção. Discordando disso, começou a educar os jovens à sua maneira, acabando por formar um pequeno grupo coral que ajudou pelo menos alguns dos jovens a fugirem à delinquência.
O filme é muito bom e um daqueles excelentes filmes franceses que se perde pela falta de uma publicidade milionária e de um interesse maior pelo cinema europeu. É um filme familiar e simpático, com mensagens morais edificantes e boa música. A música funciona não só como uma linguagem para expressar sentimentos e comunicar, mas também, como terapêutica para a raiva acumulada e para as frustrações daquele grupo de crianças.
O elenco do filme é encabeçado por um elenco onde se destaca Gérard Jugnot, um actor que eu ainda não conhecia, muito embora o rosto me seja familiar, e que gostei muito de ver aqui. François Berléand deu vida ao vilão, o antipático e rude director da instituição, mas ele faz um trabalho muito bom e rouba as nossas atenções sempre que ele aparece. A personagem vivia na escola com a mulher e os filhos, mas eu senti que isso foi um gancho para um sub-enredo que nunca deu em nada de concreto. Kad Merad e Jean-Paul Bonnaire também se revelaram boas adições ao elenco.
Tecnicamente, o filme é uma pérola de qualidade a baixo preço. Sem a espectacularidade e os recursos dos filmes da indústria americana, este filme brinda-nos com uma cinematografia primorosa, com excelentes cores e um bom trabalho de câmara, um uso inteligente da luz e da sombra e cenários magníficos e bem escolhidos. Mas é na banda sonora e no uso das vozes das crianças que o filme adquire realmente magia, principalmente para os amantes da música clássica, como é o meu caso. Uma nota de louvor ainda para o recurso a adereços e figurinos de época, que ajudam o filme a enquadrar-se bem no período retractado.
Em 15 Oct 2021