Autor: Pedro Quintão
Após 14 anos de silêncio, Final Destination: Bloodlines tenta ressuscitar uma das sagas de terror mais populares dos anos 2000 e, durante grande parte da duração, fá-lo de forma incrível, tentando ser fresh, mas mantendo a essência: a premonição inicial mais impactante, mas desta vez ligeiramente diferente, muita tensão crescente e mortes gráficas e exageradas. Contudo existe um esforço claro para dar mais profundidade à história e aos personagens. E o resultado é que acabámos por criar um vínculo emocional com as personagens, tornando mais difícil o momento em que elas morrem.
Além disso, desta vez, seguimos uma família e não um grupo de jovens estranhos, o que torna mais fácil criar essa aproximação com todas elas. É a primeira vez que sentimos que o elenco secundário foi realmente bem trabalhado, com destaque absoluto para Erik, uma das melhores personagens secundárias de toda a saga, que facilmente supera vários protagonistas dos filmes anteriores. Há um grande investimento no desenvolvimento humano, algo que não aconteceu nos capítulos mais fracos da saga.
Isso faz com que o ritmo de Final Destination: Bloodlines seja mais pausado, sim, mas sem nunca ser aborrecido. Mesmo entre a tensão e alguns momentos mais leves, o filme constrói um suspense constante, onde qualquer objeto pode ser fatal, e consegue prender a atenção mesmo com um número de mortes inferior ao habitual. Apesar de violentas, senti falta de mortes mais "convencionais" com objetos do dia-a-dia, como a célebre cena do solário (FD3) ou a da senhora com o cabelo a ser puxado pelo elevador (FD2). Neste campo, destaco a cena com um camião do lixo, que foi muito "divertida" devido à forma inesperada como acontece.
No que toca a mais pontos altos, a cena de abertura, situada nos anos 60, tornou-se nas mais longa e memorável. É uma ideia original e que acabou por ser bem desenvolvida. É com esse trabalho inicial que somos catapultados para quase duas horas de filme, onde não sentimos o tempo a arrastar-se e tudo corre bem até ao péssimo terceiro ato, que parece ter sido escrito pelos mesmos nomes que escreveram The Final Destination 4 (o pior filme da franquia).
(ALERTA SPOILERS)
É aqui que Final Destination: Bloodlines se perde por completo. O terceiro ato é aborrecido, previsível e completamente desinspirado. A sequência onde a protagonista quase morre afogada arrasta-se sem grande emoção. Esse momento em que temos os 3 sobreviventes a tentarem escapar à morte, ocupa o lugar de uma morte prometida no trailer (a da porta giratória), que inexplicavelmente nem aparece no corte final do filme e que poderia, muito bem, deixar-nos paranóicos com qualquer porta giratória que encontrássemos.
E o desfecho, mais uma vez, cai na mesma armadilha: todos pensam que enganaram a Morte, apenas para morrerem no último segundo num twist barato que já vimos vezes demais. O mais absurdo é que nos test screenings foi exibido um final alternativo, mais inteligente, onde a protagonista tem uma premonição da sua própria morte, sendo algo que teria sido muito mais eficaz, seria mais impactante e permitiria uma rutura real com o padrão repetitivo da saga.
(FIM DE SPOILERS)
Outro ponto menos conseguido é a falta de referências diretas aos filmes anteriores. Apesar de algumas pistas subtis e da marcante participação especial do Tony Todd que nos deu o momento mais comovente e bonito de toda a saga, ficou a sensação de que se podia e devia ter feito mais. Aguardava uma participação especial de algum dos protagonistas anteriores, até porque, supostamente, A. J. Cook, a protagonista do Final Destination 2 foi vista com atores deste filme perto do local de filmagens. Leva-me a crer que a sua participação possa ter sido descartada.
Em suma, Final Destination: Bloodlines é um dos melhores títulos da saga, se não mesmo o melhor, graças à sua tentativa de ser mais do que uma simples sucessão de mortes criativas. O problema é que, ao tentar ir mais longe e ser diferente, esquece-se de trabalhar num 3º ato original. Mesmo assim, os fãs vão adorar.
Em 10 May 2025
Autor: Priscila Oliveira
Como fã da saga Premonição, fui assistir Laços de Sangue com bastante expectativa — e posso dizer que, apesar de algumas falhas, o filme entrega bem o que propõe. Ele presta uma homenagem respeitosa à franquia, mas o interessante é que você não precisa ter assistido aos filmes anteriores para entender a trama deste.
As mortes continuam sendo o ponto alto: criativas, bem construídas e cheias de tensão, mantendo o espectador vidrado na tela — uma marca registrada da série. No entanto, o roteiro deixa a desejar em alguns momentos, com pontas soltas e perguntas sem resposta, o que tira um pouco da força da narrativa.
Um detalhe que torna o filme ainda mais marcante é a presença do ator que interpreta a própria Morte. Pouco tempo após as gravações, ele faleceu em decorrência de um câncer. Ver sua atuação novamente foi uma forma bonita de matar a saudade e prestar uma última homenagem.
No saldo final, Premonição: Laços de Sangue é um filme interessante, principalmente para os fãs. Dou nota 7 de 10.
Em 19 Jun 2025
Autor: igorsccp
É interessante como tem uma direção com uma ideia semelhante ao primeiro filme, sempre provocando o espectador e causando tensão por meio de sugestões mortais, criando um universo onde cada passo pode ser o ultimo.
O enfrentamento da morte como algo consciente, tem um aspecto bem direto, praticamente conspiracionista, mas nunca é algo que ironiza a si mesmo. O filme vai dando credibilidade a essa ideia à cada morte brutal que acontece, essas que estão muito bem encenadas e criativas nesse sexto filme da franquia. Apesar de seguir uma lógica de ir construindo as desgraças de pouco em pouco, nunca falha em surpreender e divertir.
Apesar dos pontos positivos, o filme não sabe lidar com o drama que ele mesmo decide impor: toda aquela trama familiar é muito fraca, parece um tipo de plano de fundo necessário para se enquadrar em uma estética naturalista da Hollywood contemporânea.
Apesar de insistir no drama, as mortes em sequencia dos membros da família, praticamente banalizam a tristeza ou qualquer outro sentimento mais palpável. Os personagens só vão aceitando e a volta da mãe da protagonista se torna mais importante do que toda a família dela morrendo.
Também senti uma direção bem fraca depois da sequencia inicial - que é brilhante - As cenas caem em uma lógica totalmente mecânica de plano e contra plano, cheio de cortes que vão quebrando qualquer tipo de fluidez ou construção visual com senso estético. Parece que quando não está nos provocando com a presença da morte, o filme acaba carregando essa ideia de se apegar a detalhes de encenação de forma mais rápida, mas não existe muito o que se apegar, além de diálogos daquela trama familiar cansativa.
Apesar de se assemelhar ao primeiro filme, não possui um senso de urgência e alienação que fez o primeiro Premonição ser tão bom. Tirando as cenas de morte, a racionalização da morte como uma presença consciente e das premonições acaba fazendo com que as coisas caiam em um lugar de certa indiferença.
Em 25 Aug 2025