Autor: Filipe Manuel Neto
**Mais uma boa adaptação da obra-prima do Bardo.**
William Shakespeare é um autor de sempre. Todos o conhecem, todos o consideram, mesmo até os que não falam inglês nativo. É um património universal, e “Romeu e Julieta” é a sua obra de maior relevo. A quantidade de adaptações para o cinema não tem fim: basicamente, “Romeu e Julieta” têm sido adaptadas ao cinema desde que existe cinema. E é difícil escolher qual delas é a melhor, cada uma tem os seus méritos e deméritos. Eu tenho algumas preferências, mas não vou mentir, esta adaptação merece estar entre as melhores.
É bastante óbvio que Franco Zeffirelli tentou tudo para ser absolutamente fiel ao material e dar-nos algo realista e poderoso. Além de tentar dar-nos cenários e figurinos realistas e com toques renascentistas credíveis, ele fez as suas filmagens em Itália, aproveitando ao máximo as cidades e praças antigas de várias cidades. Também não se satisfez com os actores famosos da época e procurou actores adolescentes capazes de encarnar, com forte realismo, as duas personagens centrais da trama. Também a cinematografia foi primorosamente tratada pelo director, com um olhar meticuloso e cortes cirúrgicos.
O resultado de todo este trabalho notável está à vista: estamos a falar de um filme lançado em 1968, quando os nossos pais estavam a queimar livros nas universidades e a gritar por revolução e amor livre, ou a combater de armas na mão nalgum canto da África colonial. O mundo parece que deu uma cambalhota nesses cinquenta anos e, todavia, o filme continua impecável, com um visual magnífico, e parece tão fresco e novo que quase podia ser um filme actual. Indicado para quatro Óscares, ganhou dois: Melhor Cinematografia e Melhor Figurino. Justíssimo.
Leonard Whiting e Olivia Hussey dão-nos as maiores interpretações das suas carreiras, ainda em plena adolescência, o que é notável por um lado, e triste por outro, pois denota que não foram capazes de, com isso, singrar realmente no mundo do cinema. Michael York também merece um aplauso pela sua magnífica actuação como Tebaldo, e também gostei bastante de Bruce Robinson, John McEnery e Pat Heywood.
Infelizmente, não é um filme sem falhas, residindo a maioria delas nos detalhes que passam ao lado da nossa atenção. A primeira falha é, para mim, a luz excessiva de algumas cenas, onde as cores e o visual do filme ficam estranhos à custa da luz em demasia. Outro problema prende-se com a pouca capacidade para transformar os diálogos de palco em diálogos de cinema, isto é, em transformar as falas elaboradas e teatrais que Shakespeare pensou para algo que realmente fosse exequível na boca das personagens reais. E também não gostei nada de terem cortado a cena do boticário. Alguém falou da cena de nudez das duas personagens principais, e eu posso até achar compreensível que isso tenha ofendido alguns puritanismos, mas é uma nudez que se compreende pela época em que o filme foi lançado… e sinceramente? Chamem-me o que vos aprouver, a Olivia Hussey era bastante bonita, com roupa ou sem ela.
Em 31 Jan 2023