Autor: Filipe Manuel Neto
**Um novo sentido para a expressão “ter esqueletos no armário”.**
De facto, este filme parece estar decidido a dar um novo sentido à famosa expressão popular “ter esqueletos no armário”. Não posso dizer que é um filme totalmente mau, porque há muita porcaria bastante pior e bastante popular a circular por aí. O filme é uma boa tentativa para um filme "thriller" com bastante mistério, e que consegue ir-nos entretendo satisfatoriamente. Não, isso não o torna um bom filme, muito menos um trabalho memorável. É apenas decente.
O roteiro começa com a morte súbita de um banqueiro muito rico, patriarca da família Monroe, uma família bem inserida na elite anglo-saxónica branca e abastada que governa tudo e todos nos EUA, solidamente alicerçada nos seus diplomas “Ivy League”, nos “Skull & Bones”, no poder de Wall Street e da alta finança. Após a leitura do testamento e a distribuição (bastante desigual) da herança, a filha mais velha do falecido, Lauren, que é a procuradora do Ministério Público em Manhattan, descobre que o pai tinha um tenebroso segredo: um abrigo subterrâneo isolado na propriedade familiar onde mantinha preso um homem há trinta anos. Esse homem, porém, sabe os segredos mais obscuros da família.
Sou obrigado a reconhecer que o roteiro trabalha em cima de boas premissas. Qual é a família política e economicamente influente que não tem segredos escondidos e que procura manter a boa imagem pública? Todavia, há realmente questões de lógica que falham imenso: como será possível que um homem fique preso durante trinta anos sem ficar severamente doente, perder massa óssea e muscular, perder a capacidade de digerir alimentos? É absurdo. E o casamento da protagonista parece apenas uma fachada, na medida em que ela é raramente vista com o marido e a filha. O final também é excessivamente súbito e não nos satisfaz. É bastante óbvio que uma advogada esperta teria envidado mais esforços e procurado mais informação antes de tomar qualquer medida relativamente àquele homem aprisionado.
Simon Pegg é excelente no papel do homem aprisionado. Apesar de a personagem ser tratada de modo bastante displicente e ilógico pelo roteiro, o actor fez um trabalho muito bom e tentou adaptar-se ao máximo à personagem que tinha por diante. Também gostei de Lily Collins, mas a actriz é jovem demais para a personagem dela, ela parece uma jovem recém-formada, ou uma estagiária, e não uma procuradora importante. Ela nem parece ter experiência para isso!
Tecnicamente, o filme é bastante contido. Não há grandes efeitos visuais ou especiais, tudo se passa em cenários e ambientes bem seleccionados, e o figurino não traz surpresas, e tampouco a cinematografia. O ambiente do filme, contudo, é trabalhado da forma certa, e consegue ir-se adensando gradualmente, à medida que as personagens vão agindo.
Em 02 Jan 2023