Autor: Filipe Manuel Neto
**Sendo uma comédia leve, e se tentarmos ignorar as premissas absurdas da trama, o filme diverte e entretém o público satisfatoriamente.**
Não sendo uma trilogia porque não possuem relação entre si, este filme tem muitos pontos de contacto com *Gémeos* e *Um Polícia no Jardim-Escola*, duas outras comédias que Arnold Schwarzenegger protagonizou na viragem dos anos 80 para a década seguinte, e que marcam a passagem deste actor dos filmes de acção pura e dura para uma série de outros trabalhos mais variados. Para mim, este filme é um prazer culpado: não sendo um filme de grande qualidade, é notável pela maneira como entretêm e diverte o público. Isso tem ajudado o filme a manter-se vivo e fresco, na memória colectiva e nos canais de TV da especialidade.
Neste filme, Alex Hesse e Larry Arbogast, dois pesquisadores médicos de uma universidade da Califórnia, procuram obter mais fundos para continuar a estudar um novo fármaco que promete reduzir as doenças ligadas à gravidez e as hipóteses de aborto espontâneo. Contudo, quando o projecto é cancelado, eles resolvem continuar secretamente e avançar com os testes em seres humanos: o próprio Dr. Hesse, que contra todas as leis naturais se torna no primeiro homem a engravidar. Todavia, quando Arbogast quer suspender o teste, Hesse decide levar a sua gravidez até ao final, ainda que arriscando a própria saúde e carreira académica.
Bem, o filme não é brilhante, muitos descreveram o roteiro como estúpido… e eu concordo. É estúpido. Há aqui demasiados problemas de lógica, coerência e até credibilidade científica. Por exemplo, a subversão gritante da anatomia humana: a inexistência de útero no homem é de todo ignorada e o períneo, onde Arbogast instala o embrião, passa subitamente da região entre o sexo e o ânus para o baixo ventre. As questões de natureza moral e religiosa são igualmente descartadas pelo filme, muito embora eu compreenda essa decisão: sendo uma comédia, eram assuntos que tornariam o filme demasiado denso e pesado.
O filme conta com um bom elenco: gostei da adição de Emma Thompson, uma excelente actriz britânica com grande talento para a comédia, muito embora considere que a personagem dela foi mal concebida, transformada numa criatura imbecil e trapalhona. Duvido que a actriz tenha uma boa memória desta personagem. Pamela Reed também foi uma boa opção e Frank Langella é muito bom, embora seja largamente subaproveitado e tenha uma personagem cliché e pouco desenvolvida. Schwarzenegger é o protagonista e revelou-se bastante competente. Ele é bom actor, mas quis dar aqui mais uma prova de versatilidade. Pessoalmente, creio que o conseguiu. Ao seu lado, Danny DeVito rouba as atenções graças a uma performance inspirada e espirituosa.
Tecnicamente, o filme é bastante convencional e desinteressante: a cinematografia é padrão e não se destaca rigorosamente, cumprindo o seu papel, mas sem se destacar; os cenários e a boa escolha dos locais de filmagem merece um louvor, assim como a concepção da banda sonora. Em contraponto, penso que o filme tem alguns problemas de edição e de ritmo, com cenas muito longas e demoradas sem que tal se justifique. Apesar de ser um filme engraçado, não é daqueles filmes que realmente nos faz cair às gargalhadas do início ao fim. Há algumas piadas forçadas, e outras realmente bem concebidas.
Em 16 Oct 2021