Autor: Filipe Manuel Neto
**Pai, Filho e… Lady Gaga.**
Fiquei muito intrigado com este filme por dois motivos principais: o primeiro é abordar um caso real de homicídio encomendado; o segundo é ter como protagonista uma pessoa que eu, apesar de conhecer do mundo da música, não sabia se teria as capacidades para ser igualmente uma boa actriz.
Não me irei alongar muito sobre o roteiro, que aborda a vida de Patrizia Reggiani, desde o momento em que conhece o futuro marido, Maurizio Gucci, até ao momento em que é presa por ter ordenado a morte dele. A situação é verídica, as motivações que levaram ao crime eram dúbias e as consequências foram claras: os Gucci, que já estavam divididos por brigas familiares, tiveram de vender a empresa de moda deles, que hoje é propriedade de um grande grupo de marcas de luxo. O filme usa tudo isto para fazer a sua narrativa, que é ficcional e muito diferente dos factos, conforme a própria família Gucci, que se mostrou decepcionada com Ridley Scott. Eu admito que os Gucci possam ter razão, pois já conheço o director: ele nunca privilegiou a verdade e os factos quando resolveu fazer filmes sobre pessoas que realmente existiram. Apesar disso, eu admito que não me importei com as liberdades do director neste caso concreto. Foi-me mais difícil aceitar a escrita cliché dos diálogos e a resumida construção psicológica das personagens.
No entanto, poucas pessoas foram ao cinema ver o filme atraídas pelo nome do director: é o elenco que chama a atenção pela escolha de Lady Gaga. Eu confesso que tive receio: além de o director já ser alguém que não me inspira confiança e nunca foi promessa de um trabalho consistente, esta opção podia ser um tiro pela culatra. Não seria a primeira vez que os produtores cediam à notoriedade de um cantor ou atleta e davam, assim, um papel principal a alguém sem aptidão para a representação. Contudo, fiquei bastante bem impressionado: afinal, Lady Gaga demonstrou grande empenho e fez um trabalho muito interessante. Al Pacino e Jeremy Irons fazem um trabalho digno, mas pouco notável para a trama em si. Adam Driver faz o que tem de fazer, mas merece um louvor pela seriedade com que trabalhou; Salma Hayek faz uma aparição discreta, mas positiva e prometedora de bons trabalhos no futuro próximo e Jared Leto tenta tão desesperadamente ganhar a nossa atenção que se torna numa anedota, para a qual contribuem o sotaque forçado e a indumentária bizarra da personagem dele.
Para compor a banda sonora, o filme aproveita muito bem várias melodias, e isso foi uma opção inteligente Visualmente, o filme tem muitos méritos, como a fotografia e o uso inteligente dos cenários, figurinos e adereços para recriar ambientes e uma época histórica específica. O trabalho de filmagem é realmente soberbo, mas a edição parece um pouco ansiosa e ganhava em ter sido feita com mais cuidado: em consequência da edição falha, acredito, o filme tem problemas de ritmo e momentos (especialmente perto do final) em que parece escamotear a trama. Penso que, antes do lançamento comercial, alguém terá tido a noção de que o filme é excessivamente longo e que ganharia em ter um corte mais duro na sala de edição..., mas é preciso saber o que cortar e como remontar, e tenho dúvidas se esse trabalho foi feito como devia.
Em 13 Dec 2024