Autor: Filipe Manuel Neto
**Sem nunca se ter tornado num clássico, este é um filme que teve o seu espaço e tempo próprio.**
Há certos filmes que, apesar de terem quarenta ou cinquenta anos, parecem manter toda a sua actualidade e pertinência nos dias actuais. Esses filmes ultrapassam, geralmente, as provas do tempo e continuam a conquistar público geração após geração. E, por outro lado, há filmes que, por serem o retracto da época em que foram feitos e lançados, pertencem àquela época específica e precisam de ser compreendidos à luz desse tempo.
A trama desenvolve-se durante a Guerra da Coreia, que ocorreu logo após a Segunda Guerra Mundial e dividiu dois países ainda em guerra, embora seja um conflito congelado. A acção centra-se numa unidade móvel médica perto da linha da frente, onde um grupo de médicos e enfermeiras procura, por meio do humor e do sarcasmo, aligeirar o ambiente tenso e esquecer o perigo em volta, ignorando e ridicularizando a autoridade dos seus superiores. Como se pode ver, não podemos entender o filme sem mergulhar na mentalidade dos anos 70. Numa altura em que a juventude americana gritava pela paz e contra a guerra no Vietname, que filme faria mais sentido do que uma paródia cómica ao exército? A Coreia havia sido recente e não tinha o carácter quase sagrado da participação na Segunda Guerra Mundial, era lícito brincar e colocar médicos barbudos, com um estilo 100% ‘hippie’, bêbados ou semi-drogados, a fazer palhaçadas que, em circunstâncias reais, os levariam a tribunal marcial. Se este filme tivesse sido lançado apenas dez anos antes, teríamos algo totalmente diferente, mas esta é a década do Flower Power, da paz e amor.
Robert Altman assegura uma direcção razoavelmente eficaz. A recriação da época, e dos ambientes do campo militar, é feita com carinho e esmero técnico. Havia ainda material de guerra autêntico que podia ser utilizado na concepção dos cenários e dos figurinos e é bastante provável que alguma testemunha tenha dito como eram aquelas unidades móveis de saúde, e o que lá era feito. Porém, o roteiro carece de unidade e coesão e assemelha-se a uma colagem de episódios cómicos ou sarcásticos, sem grande relação entre si. Era um mau roteiro e não consigo entender como ganhou um Óscar de Melhor Roteiro Adaptado. O tipo de humor é outro problema adicional: o nosso sentido de humor mudou muito em poucas décadas e a nossa sensibilidade não deixar escapar piadas de tão mau gosto como as que acontecem ocasionalmente aqui, em particular que visam personagens femininas.
O que salva o filme acaba por ser a enorme capacidade de improviso e criatividade que o elenco empregou no projecto. Com roteiristas pouco competentes e material insuficiente para construir personagens, o director parece ter tido a inteligência para dar aos actores a margem suficiente para preencher as lacunas, moldando as personagens ao seu jeito. Foi o que fez Donald Sutherland, que assim garantiu uma liderança fortíssima e carismática ao longo de todo o filme. Não é, nem de perto, o melhor trabalho do actor, mas ele logrou desembaraçar-se com louvor. Elliott Gould e Tom Skerritt seguem-no de perto e fazem o núcleo mais consistente do elenco, com personagens suficientemente boas para sustentar a acção. Robert Duvall, Sally Kellerman e Roger Bowen dão um apoio indispensável.
Na época, o filme foi um sucesso, como seria de esperar e rendeu até uma série de TV. E hoje? Quase ninguém se lembra de nada e dizer que este filme é um clássico parece-me, no mínimo, um grande exagero. Naquela época, o filme tinha um público garantido. Hoje, com a paz mundial decadente à custa da crescente conflitualidade entre EUA, Irão, China, Rússia e outras potências, não podemos mais apelar à paz sem apelar ao rearmamento dos nossos países e os seus aliados. Numa época em que já se vive em ambiente de “pré-guerra mundial”, um filme que ridiculariza o exército não tem espaço para florescer.
Em 16 Mar 2024
Autor: Rosana Botafogo
**English**
We know that the army (like any predominantly male place) has countless disrespectful and disgusting situations regarding women, but watching this behavior in a comedy is even more disgusting, I didn't find it funny at all (radio is cool), I don't know how it was so successful that it became a series and worse, received five Oscar nominations and won for Best Adapted Screenplay... As for the rest of the film, boring, tedious, not very funny, outrageous and tiring...
**Portuguese**
Sabemos que o exército (como qualquer lugar predominantemente masculino) tem inúmeros desrespeito e situações enojantes com relação à mulher, mas assistir esse comportamento numa comédia e ainda mais repugnante, não vi graça alguma (rádio é legal), não sei como isso fez tanto sucesso a ponte de ter se tornando uma série e pior recebeu cinco indicações ao Oscar e venceu de Melhor Roteiro Adaptado… Com relação ao restante do filme, chato, entediante, bem pouco engraçado, ultrajante e cansativo…
Em 18 Aug 2024