Autor: Filipe Manuel Neto
**Apesar de Ryan Gosling ser extraordinariamente bom aqui, o filme não tem piada e o roteiro é incrivelmente inverosímil e exagerado.**
Confesso que não sei muito bem o que pensar acerca deste filme. Reconheço a originalidade do assunto em causa, mas se a ideia era fazer comédia isso fracassou comigo. Também fiquei com a sensação que o filme entra, demasiadas vezes, numa espécie de “twillight zone” onde todos fazem, de forma mais ou menos consciente e deliberada, papel de idiotas – até o padre!
O roteiro do filme centra-se na figura de Lars, um homem inacreditavelmente tímido, que não é sequer capaz de manter um relacionamento normal com os próprios familiares e se isola tanto quanto possível. Porém, de repente, ele decide arranjar uma namorada que apresenta a toda a gente: e ela é simplesmente uma boneca erótica de plástico, bastante realista. A partir daqui, e para a minha surpresa, todos decidem colaborar com o delírio deste homem e tratar a boneca de plástico como se fosse uma pessoa verdadeira.
Para mim, o filme não funcionou. Eu não sou capaz de dar algum tipo de credibilidade ao roteiro e a história contada é simplesmente demasiado rebuscada e inverosímil para que eu a engula. Se a ideia era fazer uma sátira, não percebi o que estava em causa. Se a ideia era fazer comédia, não teve piada alguma. Pessoalmente, achei até um pouco ofensivo, enquanto o filme tenta fazer rir à custa de um homem que é tão tímido que necessita urgentemente de terapia ou aconselhamento psicológico. E, agora que falo nisso, também não entendo toda a pressão da sociedade para empurrar um individuo para o namoro ou o casamento. Por vezes, é-se mais feliz solteiro.
Apesar de não ter gostado deste filme, e de levantar sérias críticas ao roteiro, reconheço o valor e o empenho do seu elenco, particularmente de Ryan Gosling. O actor é extremamente bom e talentoso, e neste filme ele trabalha a fundo, numa personagem extremamente rica e com uma psicologia muito interessante, que o actor soube explorar e desenvolver maravilhosamente. Em última análise, a performance excelente de Gosling não só redime bastante o filme como acaba sendo a verdadeira razão para ver o filme! O filme conta ainda com Paul Schneider, Kelli Garner e Emily Mortimer nos papéis secundários, mas é realmente Gosling que brilha.
Tecnicamente, o filme parece-me bastante neutro e dentro dos padrões regulares da indústria: a cinematografia e os cenários não trazem nada de original, mas cumprem bastante bem o seu papel; os figurinos, e particularmente o de Gosling, estiveram bastante bem e harmonizam-se com o ambiente e o tema (gostei especialmente dos figurinos usados no funeral). Não me parece que o filme tenha tido um orçamento muito grande, mas a produção soube aproveitá-lo bem.
Em 09 May 2021