Autor: Filipe Manuel Neto
**É um filme substancialmente mais fraco do que os seus três predecessores.**
Depois de dois filmes francamente bons, eu estava curioso para ver o que este filme traria para o público, que se dispôs imediatamente a encher os cofres do estúdio com o dinheiro dos seus bilhetes de cinema. A Marvel descobriu um excelente filão financeiro ao transpor para cinema a maioria das suas personagens, e este filme está fadado a ser um sucesso de bilheteira, ainda que a qualidade seja bastante mais questionável.
Começarei pelo que normalmente deixo para o final: os aspectos técnicos e valores de produção são realmente excelentes e constituem o ponto mais forte e mais sólido do filme. Dirigido por Jon Favreau, que mantém a sua cadeira desde o primeiro “Iron Man”, o filme manteve a maior parte da equipa técnica e do núcleo do elenco, ajudando a dar à trilogia o sabor de uma obra única. Com uma aposta sólida em mais acção espalhafatosa, barulhenta e espectacular, o filme quer agradar a um público jovem e que quer algo grande, em que o CGI e os efeitos possam criar autenticidade e sensação de perigo. É inegável a qualidade dos efeitos, mas a acção excessiva tira impacto ao conjunto final. Parece um jogo de vídeo, um erro recorrente neste tipo de filmes.
Além disso, o filme tem boa cinematografia, foi maravilhosamente filmado, é nítido e tem excelentes cores e luz. O trabalho dos duplos é meritório, ainda que regularmente esquecido na mente dos espectadores. Os cenários e figurinos são muito bons, especialmente a casa de Tony Stark e as várias armaduras do filme. Ainda uma palavra para a banda sonora, de Dwight Yoakim, que se revelou estar à altura da situação sem, todavia, se revelar memorável.
O elenco conta com a maioria dos nomes que já conhecemos dos dois filmes anteriores, sendo Robert Downey Jr. o mais relevante por manter o papel protagonista. O actor é bom, merece o nosso crédito, e reconheço que tentou dar à sua personagem uma maior maturidade e sensação de experiência. Neste filme, Stark é um homem muito mais maduro, traumatizado, cansado e até mesmo fragilizado, e a sua relação com Pots tornou-se mais formal e firme, fazendo o antigo playboy assentar e levar adiante uma relação amorosa séria. Entendo que isto possa desagradar a alguns, mas o filme parece ocorrer vários anos depois do seu predecessor, “Iron Man 2”, e faz menção a vários acontecimentos, entretanto, ocorridos. Com um excelente trabalho técnico e o recurso a excelentes maquilhadores, Ben Kingsley brilhou no papel que lhe foi dado e que é, de modo evidente, um dos melhores da sua carreira recente. Paltrow e Cheadle também nos deixam um registo positivo do seu trabalho, ainda que não tenha sido tão intenso quanto seria de esperar. Favreau, além de dirigir o filme, tem um breve cameo engraçado como Happy. Mas é com Guy Pearce e Rebecca Hall que devemos estar preocupados: eles fazem o que podem, e no entanto, o filme não lhes deu grandes hipóteses de fazer mais e melhor.
O maior problema deste filme é, claramente, o enredo e a escrita do roteiro, dos diálogos e das cenas. As tentativas de fazer comédia são muito desagradáveis, e Stark, que dantes tinha quase uma enxurrada de frases e piadas para todas as ocasiões, é agora um homem sério e cansativo. O material dado aos actores é escasso e não traz nada de realmente bom. Além disso, o filme quase não tem qualquer ligação com os filmes precedentes, e muito especialmente “Iron Man 2”, cujos acontecimentos nunca são realmente proferidos por ninguém.
Em 13 Aug 2022