Autor: Filipe Manuel Neto
**Uma boa comédia romântica, com defeitos e virtudes, que não merecia quatro Óscares e que, apesar disso, merece a apreciação dos fãs deste género de cinema.**
Woody Allen é um daqueles directores que muitos amam, muitos não suportam e muitos acham simplesmente idiota. Eu já vi alguns filmes dele de que gostei e já vi outros que detestei e consigo, portanto, compreender porque é que ele é um daqueles directores que nunca foi capaz de se afirmar e de ter um reconhecimento consensual como outros têm.
O filme é uma comédia romântica que assenta na relação de um casal interpretado pelo próprio Woody Allen e Diane Keaton. Eles até gostam um do outro, mas não conseguem fazer a relação funcionar de maneira harmónica. Claro, isso gera situações engraçadas e constrangedoras. Lançado no rescaldo da “revolução sexual”, o filme aborda o tema da sexualidade sem rodeios e eles discutem isso abertamente. Não sei se é necessário dizer, mas os diálogos são uma característica importante do filme e as duas personagens estão quase o tempo todo a falar.
Um dos pontos fortes do filme é, sem dúvida, a sua aparente simplicidade e elegância: é um filme simples, tão simples e aparentemente barato que cheira a indie. Não há efeitos visuais complicados, a cinematografia é funcional e tem boa luz, os cenários são muito realistas, simples e pragmáticos, todos parecem estar a usar as suas próprias roupas… é um filme que mais parece um trabalho de começo de carreira. E no centro da ribalta está o duo de actores, Woody e Keaton, num trabalho magnífico. Eles nem parecem estar ali a interpretar personagens, parecem apenas eles mesmos!
Contudo, está longe de ser um filme livre de problemas. O sexo é um tema abordado de modo sincero, mas domina demais as discussões do casal, é tão omnipresente que acaba por ser cansativo, como aquelas pessoas que estão sempre a falar na mesma coisa e não se calam ou mudam de assunto. O estilo de humor de Allen também está longe de levar a consensos: uns gostam, dizem que é informal, brilhante na sua simplicidade, e outros já o consideram simplesmente estúpido, sensaborão e, às vezes, ofensivo.
O filme foi um dos grandes vencedores dos Óscares de 1977, e isso para muita gente é qualquer coisa. Na minha opinião, penso que Diane Keaton mereceu o Óscar de Melhor Actriz, ela tem um trabalho notável. De igual modo, penso que o filme mereceu o Óscar de Melhor Roteiro Original, e que a história e diálogos do filme o justificam bem, mas Allen não merecia o Óscar de Melhor Director, o qual teria sido mais justamente dado a George Lucas, nomeado pelo primeiro filme da saga “Star Wars”. E posto que estes dois filmes competiram pelo Óscar de Melhor Filme, é realmente difícil compreender como é que este filme venceu o galardão. Penso que até os apreciadores de Allen aceitam que “Star Wars” merecia a estatueta e que a academia só não o quis fazer porque esse era um filme sci-fi. Agora, vamos ao que interessa: o filme é bom, vale mesmo a pena? Claro, é uma resposta subjectiva, que depende do que cada um gostar. As pessoas que gostam de comédias românticas com muito diálogo vão gostar, mas as outras podem passar ao lado sem sentir que perderam realmente alguma coisa com isso.
Em 01 Jul 2023