Autor: Filipe Manuel Neto
**Dá demasiado valor ao que não tem importância nenhuma.**
Este filme, inicialmente, não me pareceu tão mau como muitos dizem que é. A sério, é agradável quando estamos a ver, mas piora quando pensamos nele a sério. A história gira em torno de uma jornalista que tenta descobrir o assassino de uma amiga de infância, a qual lhe confessara estar a ter um caso com um poderoso executivo de uma firma publicitária. Claro, a jornalista desconfia imediatamente dele e resolve infiltrar-se na empresa e seduzi-lo para descobrir a verdade.
O filme tem uma boa premissa inicial e proporciona ao público um entretenimento bom e até algum suspense agradável. O problema vem quando pensamos naquilo que estamos a ver. Logo de início, a jornalista tenta expor um político que, apesar de ser homossexual, se posiciona como opositor dos direitos LGBT. Pelo menos foi o que eu compreendi! Eu entendo que ser gay e ser contra os gays é uma contradição gigantesca, mas ainda não me parece motivo para um furo jornalístico, mesmo quando se exercem cargos públicos. A vida pessoal de cada um só diz respeito a cada um, e só cada um é que deveria ver as eventuais contradições que possam existir e ser honesto consigo mesmo. E como se não fosse suficiente, a jornalista decide, depois, seduzir um homem casado, que ela sabe ser um mulherengo e um adúltero contumaz, para saber se ele matou a amiga dela. O CEO do filme é retratado como um adúltero que assedia sexualmente as funcionárias... mas se o assédio sexual é crime o que nós vemos no filme não: eu só vi as funcionárias quase a atirar-se para o colo do patrão, que não é feito de ferro... Tudo isto acaba por nos fazer esquecer o homicídio inicial, que devia ser o foco do filme e que perde a sua importância à medida que os jogos de sedução entre o patrão e a falsa funcionária se tornam mais intensos. Outra coisa que não tem qualquer tipo de relevância mas que o filme destaca até onde pode são os tórridos encontros sexuais da personagem principal. Certo, sexo vende, mas até o sexo devia ter razão de existir num filme.
Sinceramente, o problema deste filme é a má construção do roteiro, que dá valor acessório e esquece o fundamental. Outro problema que observei é a má construção das personagens, que são incapazes de criar empatia com o público, muito embora eu tenha gostado da ideia de todas elas terem o seu próprio "lado obscuro", o seu esqueleto no armário. Mas a má construção das personagens é consequência do mau roteiro. Hale Berry tentou dar mostras de talento e ainda consegue uma performance satisfatória, mas não recebeu material para brilhar. Bruce Willis, apesar de estar numa personagem que lhe permite tirar pleno partido do charme e magnetismo que por norma lhe atribuem, também não me pareceu na sua melhor forma. Os dois actores construíram uma boa química, mas é só. Giovanni Ribisi é simplesmente idiota e Nicki Aycox teve uma personagem sem credibilidade nenhuma.
O filme entretém, mas é melhor ver sem pensar nele. Acaba por se revelar perfeitamente esquecível.
Em 30 Dec 2018