Autor: Filipe Manuel Neto
**Um bom filme sobre um grande presidente americano e com um Daniel Day-Lewis tão talentoso que é imperdível.**
Este filme relata os esforços do presidente Abraham Lincoln para aprovar no Congresso uma emenda constitucional para acabar com a escravatura nos Estados Unidos. Dirigido por Steven Spielberg, tem roteiro de Tony Kushner e Daniel Day-Lewis no papel principal.
Não é novidade que a abolição da escravatura nos EUA foi incrivelmente tardia em comparação com outros países, como a França, o Reino Unido ou Portugal. O nosso país foi dos primeiros a promover a escravatura transoceânica em larga escala mas também foi dos primeiros países do mundo a aboli-la completamente. Mas ver este filme diz-nos elucida o motivo: a força económica da escravatura era enorme e, durante a Guerra Civil, até no Norte houve oposição às campanhas abolicionistas. Lincoln, no filme, é retratado como imune a tudo e a todos, lutando para fazer aprovar a emenda. Mas o racismo era omnipresente nos EUA daquele tempo e algumas cenas do filme esquecem isso, colocando o Presidente em contacto directo com os negros, algo que provavelmente nunca terá ocorrido em contexto formal. Mas apesar de alguma parcialidade na forma como Lincoln foi retratado pelo filme e de algumas imprecisões históricas o roteiro é bom e mostra a pura burocracia que, até hoje, é necessária para aprovar uma emenda. O desempenho dos actores também é bom, muito particularmente Day-Lewis, que quase se metamorfoseou para interpretar o icónico presidente dos Estados Unidos a ponto de merecer o Óscar de Melhor Actor. Também os figurinos, conjuntos e caracterização estavam ao mais alto nível. John Williams assinou a banda sonora, como geralmente acontece nos filmes de Spielberg, mas não brilhou tão intensamente como muitas vezes brilha.
É um bom filme, que aborda um ponto decisivo na história americana e tem qualidade, mas está longe de ser um dos melhores da carreira de Spielberg. No entanto, marca sem dúvida uma nova etapa na carreira de Daniel Day-Lewis, que se torna o único actor da história do cinema a ter recebido o Óscar de Melhor Actor por três vezes.
Em 21 Feb 2018