Autor: Filipe Manuel Neto
**Glenn Close brilhou num dos filmes mais interessantes que fez em anos recentes.**
Glenn Close é indubitavelmente uma grande actriz, com créditos firmados, ainda que tenha um azar tremendo nos Óscares, com oito nomeações e oito desilusões. Eu já vi vários trabalhos em que ela realmente se empenha muito e este filme é apenas mais um. Ela já tinha interpretado a mesma personagem na Broadway anteriormente, mas desta vez além de ser actriz, ela ainda se dedicou à escrita do roteiro, à produção e a outros detalhes. Então, o filme tem inteiramente a marca desta grande artista.
Baseado num texto ficcional, o filme apresenta-nos a uma mulher já madura que, após uma vida de dificuldades, decidiu esconder o seu sexo e disfarçar-se de homem para conseguir trabalhar. Albert Nobbs é, assim, uma tímida e retraída mulher que nunca viveu uma vida plena devido a essa mentira. O seu sonho é poupar o suficiente para abrir o seu próprio negócio. Ele conhece, por fim, alguém numa situação semelhante à sua e ganha coragem para cortejar Helen Dawes, uma camareira do mesmo hotel onde ele trabalha… mas ela não é totalmente genuína na forma como se deixa cortejar. Ela tem um namorado que está interessado nas poupanças de Nobbs.
O filme tem uma excelente premissa inicial e isso funciona muito bem, mas a verdade é que as personagens são demasiado densas para um filme que eu classificaria como um “drama ligeiro” tendo em conta a incapacidade para criar um ambiente mais tenso e mais sério. Para tornar as coisas mais difíceis, o filme é extremamente lento e a maioria das personagens não nos provoca qualquer simpatia, além de que não foram particularmente bem pensadas.
O ponto mais forte de todo o filme é o enorme exercício polivalente de Close, que escreve uma canção para o filme, ajuda com o roteiro, produz e ainda actua maravilhosamente bem. Ela dá a Nobbs uma compostura tipicamente britânica e uma timidez enorme que achei adequada para a personagem. Mia Wasilowska faz o que pode e aproveita ao máximo a sua beleza e charme, mas a personagem parece superficial e desinteressante. Aaron Johnson também não me parece mal, mas a verdade é que ele, assim como Pauline Collins e Janet McTeer, não teve quase tempo nenhum na tela. São actores que foram postos de parte.
Tecnicamente, o filme tem valores discretos de produção e procura ambientar, com sucesso, a sua história na cidade de Dublin dos anos finais do século XIX. Os adereços, roupas e cenários são aqueles que esperaríamos num bom filme. A cinematografia é regular, a edição não é muito boa, os diálogos são decentes, mas não particularmente bons. A banda sonora tem momentos de qualidade e muita inspiração.
Em 07 Aug 2022