V de Vingança

Autor: Filipe Manuel Neto

**Português** **_É um bom filme mas tem ideias perigosas por trás_** Este filme centra-se na figura misteriosa de V, um mascarado sem nome ou identidade que enfrenta o governo inglês. Tudo ocorre num futuro distópico, onde a democracia deu lugar a um governo totalitário de partido único, baseado numa ideologia nacionalista, repressiva e ultra-conservadora. Inspirado por uma conspiração católica do século XVII (a Conspiração da Pólvora), V declara-se defensor da democracia, inicia uma campanha de terror contra o governo e incita as pessoas a revoltar-se. Mas o que ninguém sabe é que V é impulsionado por um desejo de vingança ligado ao seu passado. Ao seu lado está Evey Hammond, uma jovem que é salva por ele e, eventualmente, acaba fascinada pela figura misteriosa. O filme é uma adaptação de uma banda desenhada de Alan Moore e David Lloyd, dos anos oitenta. Foi dirigido por James McTeigue, que também dirigiu a trilogia "Matrix" e que parece ter um gosto particular por distopias orwellianas. O elenco é liderado por Hugo Weaving e Natalie Portmann, que estiveram num excelente nível e brindaram o público com excelentes desempenhos. Muito interessantes também são alguns diálogos e monólogos, em particular a forma como V se apresenta a Evey no início do filme, com quase todas as palavras que diz começadas pela letra V. O personagem conseguiu transcender a sua individualidade e tornar-se um símbolo de luta, com um toque de anarquismo. Um símbolo tão forte que, até hoje, vemos máscaras semelhantes às usadas no filme em muitos protestos ao redor do mundo. A única nota negativa: o filme, apesar de talvez não ser essa a intenção, acaba por defender que os fins justificam os meios e que a destruição de edifícios e bens públicos, obras de arte ou monumentos é algo pouco relevante quando, através desse gesto, se tenta defender uma ideia que se julga ser importantes. Ora mas isso é a essência do Terrorismo, e as pessoas que o fazem são os fanáticos que costumávamos condenar noutros filmes e na vida real. Por isso, essa ideia implícita parece-me demasiado perigosa para ser ingenuamente "apoiada" por filmes como este. **English** _**A good movie, but with dangerous ideas_** This film focuses on the mysterious figure V, a masked without name or identity that stands against the English government. Everything takes place in a dystopian future, where parliamentary democracy gave way to a totalitarian one-party government, based on a strongly nationalist, repressive and ultra-conservative ideology. Inspired by a catholic conspiracy of the seventeenth century (the Gunpowder Plot), V declares himself a defender of democracy, starts a terror campaign against the government and incites the people to revolt against dictatorship. But, what no one knows is that V is driven by a desire of vengeance linked to his mysterious past. By his side is Evey Hammond, a young woman who is saved by V and eventually become close to him. The film is an adaptation of a comic book written by Alan Moore and illustrated by David Lloyd in the eighties. It was directed by James McTeigue, who also directed the "Matrix" trilogy and that seems to have a particular taste for Orwellian dystopias. The cast is headed by Hugo Weaving and Natalie Portmann in the roles of V and Evey, having been at a great level and toasted the audience with excellent performances. Very interesting are also some dialogs and talks, in particular the way that V introduces himself before Evey in the beginning of the film, where almost every word he says begin with the letter V. The character was able to transcend their individuality and become a symbol of struggle, with a gentle touch of anarchism. Such a strong symbol that, even today, we see masks similar to those used in this film in many protests around the world. The only negative note: this film does, although perhaps without that intention, a "defense" that the ends justify the means, and no matter the destruction of public buildings, works of art and historical monuments when we are looking, through this gesture, to defend an idea or cause that we thought to be important. However, this is terrorism, and the people who does it are that fanatics that we used to condemn in other movies and in real life, which makes this idea too dangerous to be "supported" by films like this.