Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme eficaz e com qualidade, que mantém uma abordagem ligeiramente diferente de outros filmes de possessão.**
Neste filme, que eu penso que já se tornou bastante conhecido, uma jovem menina é atraída e acaba por se ligar demasiado a uma misteriosa caixa de madeira cheia de entalhes em hebraico. À medida que o comportamento dela se vai alterando e várias pessoas se vão ferindo pelo caminho, o pai da menina é o primeiro a perceber que a caixa é o centro de todo o problema. Após uma pesquisa, descobre que a caixa está amaldiçoada e prende no interior um espírito ou demónio através de antigos rituais de magia judaicos.
Vi este filme recentemente mas há uns anos que já conhecia a história verdadeira onde o filme se inspirou: uma caixa de vinhos antiga que, supostamente, prendeu de facto um espírito por meio de magia judaica. A história apareceu na Internet quando os donos tentaram vender este objecto e é bastante conhecida do mundo dos internautas e dos fãs do sobrenatural. Muito particularmente, mantenho as minhas dúvidas acerca da veracidade da história, mas o facto é que deu ao filme uma boa base que o filme desenvolve muito bem, contando-nos uma história assustadora e intrigante. É semelhante a outros filmes de exorcismos, possessões e objectos amaldiçoados, um género muito explorado, mas traz algo original ao mostrar crenças judaicas, ao invés do tão explorado exorcismo católico.
O elenco faz o que é preciso fazer. Jeffrey Dean Morgan, a quem cabe o papel principal, é muito bom e nunca me pareceu histriónico ou forçado. Natasha Calis, a menina atormentada, é boa e dá-nos, na minha modesta opinião, um dos melhores desempenhos infantis em filmes de terror que vi em muito tempo. As duas personagens foram bem pensadas e a forma como o filme se desenvolve permite ao público importar-se com elas. Kyra Sedgwick também é boa mas a personagem dela é irritante. Acho que o filme toma o lado do pai na questão conjugal que os divide, e isso reflecte-se na forma como a personagem de Sedgwick foi desenvolvida. O resto do elenco limita-se ao que tem de fazer, e Matisyahu não foi feliz. Ele toma parte no problema daquela família sem percebermos a razão que o faz agir quando todos os outros judeus se demarcaram do assunto, e depois grita o nome do demónio tantas vezes e tão alto que eu fiquei com a impressão de que o demónio devia ser surdo.
Tecnicamente, é um filme discreto. Não sei bem o orçamento, não pesquisei acerca disso, mas é possível que os produtores não estivessem a nadar em dólares. Os efeitos especiais e visuais estão lá, funcionam, mas são discretos e há pouca coisa espectacular. O melhor dos valores de produção é a boa fotografia, com boas filmagens de corte rápido e muito movimento, cenas aéreas bem colocadas e um uso hábil da luz e da escuridão. Temos ainda uma banda sonora e efeitos de som simplesmente excelentes, que intensificam muito a tensão e o impacto dramático.
No meio do lixo que se faz todos os anos no género de terror, é difícil encontrar algo que seja mesmo bom e valha a pena. Mas este filme vale a pena e merece ser apreciado.
Em 02 May 2020