Autor: Pedro Quintão
Numa experiência cinematográfica envolvente, "_Poor Things_" conquista desde o início, principalmente devido ao argumento habilmente construído. A trama segue uma mulher que, ao descobrir o mundo, tem sua ingenuidade roubada, abrindo espaço para mensagens poderosas sobre liberdade individual, autoconhecimento, inocência e maldade. A crítica feminista, crua e eficaz, destaca-se pela originalidade, fugindo dos clichês dos filmes comerciais.
Yorgos Lanthimos, conhecido por sua abordagem única e bizarra, não decepciona, apresentando um universo cinematográfico peculiar e artisticamente rico. A criação de uma versão fictícia de Lisboa, inserida num contexto alternativo e surreal, adiciona camadas intrigantes à narrativa, proporcionando um verdadeiro delírio visual.
A interpretação de Emma Stone é o coração do filme, entregando-se de corpo e alma a um papel exigente. Sua atuação extraordinária oferece uma experiência emocionalmente envolvente, merecendo reconhecimento na temporada de prêmios, incluindo um possível Oscar de Melhor Atriz.
A veia artística original de "_Poor Things_" é notável, destacando-se pela impecável técnica cinematográfica, superando outras produções conceituadas. O filme é ousado, irreverente e verdadeiramente diferente, oferecendo uma experiência única para aqueles dispostos a explorar territórios cinematográficos inexplorados.
No entanto, mesmo com tantos méritos, "Poor Things" não é isento de críticas. A passagem em que a narrativa se arrasta, especialmente durante o momento do barco para a Grécia, torna-se monótona, revelando-se um ponto fraco que poderia ser aprimorado com uma redução de 20 minutos na duração total do filme.
A originalidade que é sua força também se torna sua vulnerabilidade. A natureza invulgar da produção pode não agradar a todos os espectadores, tornando-o um filme que exige uma mente aberta para ser plenamente apreciado. Em última análise, "Poor Things" é uma obra cinematográfica marcante, capaz de deixar uma impressão duradoura naqueles que se aventuram por sua narrativa peculiar e cativante.
Em 06 Feb 2024
Autor: Rosana Botafogo
**English**
I really liked it, mainly for the profusion of confusing ideas, a colorful and vibrant allegory, nominated for an Oscar for the adapted and freely altered script, which I think made the story even more interesting... Female freedom and libertinism reflected if there were no rules and we weren't raised by a patriarchal, sexist and misogynistic society, I love it... And in my immense mania of trying to find meaning in each scene, several layers were presented here...
The incredible story about the fantastic evolution of Bella Baxter, a young girl brought back to life by the brilliant and unconventional scientist Dr. Godwin Baxter.
The fantastic evolution of Bella Baxter, a woman resurrected by the brilliant and unorthodox doctor Godwin Baxter. Under Baxter's protection, Bella wants to learn. Eager to see the world, she runs away with Duncan Wedderburn, an elegant and debauched lawyer, on a dizzying adventure. Free from the prejudices of her time, Bella grows firm in her purpose of defending equality and liberation.
**Portuguese**
Gostei muito, principalmente pela profusão de ideias confusas, uma alegoria colorida e vibrante, indicado ao Oscar pelo roteiro adaptado e livremente alterado, o que me parece deixou a história até mais interessante... A liberdade e libertinagem feminina refletida caso não houvesse as regras sociais e não fossemos criados por uma sociedade patriarcal, machista e misógina, adoro... E na minha imensa mania de tentar encontrar significados em cada cena, aqui foram apresentadas várias camadas...
Em 20 Apr 2024
Autor: Marte
**Contém spoilers leves**
Esse é o segundo filme do Yorgos Lanthimos que assisto, sendo o primeiro "Dente Canino" (2009). Apreciei Pobres Criaturas muito mais que Dente Canino, apesar da pegada parecida de aprisionamento, criaturas e pessoas criadas longe da sociedade, adultos manipuladores e controladores e muita controvérsia social. Esse filme é desconfortável na medida adequada para uma experiência minimamente agradável, ao contrário de Dente Canino que é puramente desagradável. Não no sentido de ser ruim, mas no sentido de te fazer se retorcer de nervoso por causa do controverso. Não que isso seja reprovável para um filme, afinal de contas a arte pode ser desagradável; é que Pobres Criaturas cativa mais, naturalmente.
A atuação brilhante de Emma Stone, que fez um papel que eu não estou acostumada de vê-la, foi a coroação de um filme que aborda o absurdo de diversas formas. Aqui, as pessoas que assistem ao filme são obrigadas a refletir os limites da ética científica em um universo de época, mas futurista ao mesmo tempo. Mas também encaram um dilema: uma pessoa adulta por fora e mais "infantil" por dentro é uma pessoa adulta de fato? Quais são os limites da sexualidade desse ser e da interação dos outros adultos com essa pessoa? Vi comentários tentando criticar e jogar esse filme na lata de lixo argumentando que era uma "apologia à pedofilia". Essas pessoas são, para dizer o mínimo, desprovidas de qualquer sinal de inteligência para afirmar uma coisa dessas. De qualquer forma, Lanthimos joga com os limites do socialmente aceitável ao abordar uma coisa que muitos outros fizeram antes dele: Freud, por exemplo. A coisa, no caso, a sexualidade na infância e/ou de pessoas com deficiência. Algumas pessoas também não gostaram do retrato do trabalho sexual no filme, julgando ser "romantizador de prostituição". Me deem um tempo! Discordo dessas leituras e na minha opinião o trunfo do filme é justamente jogar com o que deixa a parte conservadora das pessoas furiosa.
Sem falar na excelente ambientação, escolha de figurino, etc. Realmente um dos melhores filmes a que assisti esse ano, e me deixou pensando nas minhas próprias experiências com minha sexualidade enquanto pessoa autista (lógico que isso não significa que Bella Baxter seja autista ou algo do tipo, não foi isso que quis dizer).
Ah, uma coisa que me deixou um pouco perturbada foi ver o Mark Ruffalo no papel de Duncan, não porque ele tenha feito um trabalho ruim (na verdade, foi excelente), mas porque tô acostumada a vê-lo em papéis muito mais pastelão. Acho que a mesma vibe da Emma Stone. Aliás, ver esses dois atores transando em tela foi uma coisa completamente fora da minha imaginação! Muito engraçado!
Detalhe: filme R-rated não ao acaso, não assista com crianças, adolescentes, familiares, amigos de familiares, sei lá. Tem putaria pra caralho.
Em 10 Jun 2024