Autor: Filipe Manuel Neto
**Extraordinário.**
Gostei muito deste filme, que foi a minha primeira incursão no cinema afegão, raríssimo aqui no circuito cinematográfico europeu. O filme tem o seu valor não apenas pela tocante história que nos traz, envolvendo a amizade entre duas crianças, a sua paixão comum por papagaios de papel (que eu encaro, também, como um óbvio símbolo de liberdade) e a forma como a sua amizade é afectada pelos acontecimentos mais recentes da história afegã, nomeadamente a invasão da União Soviética e, décadas depois, a ascensão do regime Talibã.
O filme é muito bom e actual, dando-nos uma visão dos factos diferente daquela a que estamos acostumados, e que provavelmente se identifica com a do próprio povo afegão. Os filmes a que estamos acostumados abordam estes temas sob a perspectiva dos EUA e do Ocidente. Mas o melhor é ver o filme… receio que se me alongar muito em considerações acerca do enredo isso possa estragar o efeito que o filme provoca. O roteiro é muito bom e envolvente até ao final, e a direcção de Marc Forster sabe extrair o melhor e evidenciar o que o filme tem de bom.
O elenco é composto, maioritariamente, por actores amadores de nacionalidade afegã, e isso dá ao filme uma autenticidade muito bem-vinda, a que se deve acrescentar o facto de todos se exprimirem nas suas línguas nacionais. O trabalho do elenco é impecável e cuidadoso, e todos são muito bons naquilo que fazem. Pessoalmente, gostaria de os voltar a ver trabalhar.
Tecnicamente, é um filme discreto que aproveita bem os recursos que tem e se adapta bem às circunstâncias. Boa parte foi filmada na China, provavelmente por o Afeganistão ainda não deter condições de segurança para garantir a integridade da produção. A cinematografia aproveita ao máximo as paisagens e locais utilizados, e pauta-se pela elegância e sobriedade. A luz e a cor são muito agradáveis. Os efeitos especiais e sonoros acompanham a qualidade técnica geral e a banda sonora, discreta, cumpre o seu papel com dignidade.
Em 17 Apr 2021