Autor: Filipe Manuel Neto
**Apesar de alguns méritos e do esforço de Jeunet e do elenco, é o mais fraco dos filmes da franquia Alien.**
Este foi o quarto filme da franquia Alien e o último em muitos anos. A franquia começou bem e desenvolveu-se de modo agradável em três filmes que, apesar de não serem isentos de crÃticas ou problemas, funcionam realmente bem e têm bastante coerência, enquanto obra conjunta. O quarto filme, infelizmente, rompe totalmente com essa união coerente e harmónica.
Jean Pierre Jeunet fez um trabalho agradável e indubitavelmente forte. É um dos filmes que fez a carreira do director e que recordamos quando falamos dele. E não há dúvidas de que ele conseguiu impedir este filme de ser ainda pior, esmerando-se no seu trabalho, na coordenação da sua equipa técnica e na orientação de um elenco forte e altamente competente.
Sigourney Weaver está de volta à personagem que alavancou a carreira dela, apesar das muito compreensÃveis renitências em aceitar o projecto (afinal de contas, Ellen Ripley havia morrido no filme imediatamente anterior). Ela mesma afirmou, sem qualquer problema, de que aceitou fazer o filme porque foi regiamente paga. Não a censuro. Para um actor, que vive dos trabalhos para os quais é chamado, e que nunca sabe muito bem quando é que aparecerão, é importante aceitar oportunidades lucrativas. E temos de ser honestos, a actriz empenhou-se no trabalho e fez tudo para nos dar uma actuação ao mesmo nÃvel da que vimos nos filmes anteriores. O que ela, infelizmente, não tinha, era material com a mesma qualidade. Winona Ryder, que estava a vivenciar um perÃodo particularmente feliz da sua carreira, também está aqui e nos dá um trabalho bastante razoável, ainda que muito longe de igualar os grandes desempenhos que ela atingiu em outros filmes da mesma época. Ron Perlman, razoavelmente desconhecido, está em boa forma, assim como Brad Dourif.
A nÃvel técnico, o filme é francamente inferior aos precedentes, é considerando que tudo isto é um conjunto que deveria ser coeso e homogéneo, é difÃcil não tecer algumas comparações. É um filme que continua a assentar solidamente em efeitos visuais e especiais muito fortes, que são feitos de modo muito razoável considerando a idade do filme e o que foi feito antes. Não é tão espectacular quanto os seus predecessores, e qualquer originalidade perdeu-se, mas não é mau e vale a pena ver. Infelizmente, para um filme de terror com monstros à solta, as cenas de acção são escassas, e parecem muito cópias fracas do que foi feito nos outros filmes (para dar um exemplo, também neste filme há um Alien sugado por um buraco, de modo semelhante ao que aconteceu no primeiro filme). A tensão e o ‘suspense’ continuam presentes e é um filme verdadeiramente enervante, que pode ser perturbador para algumas pessoas. Porém, o medo e os sustos realmente eficazes são muito poucos, ainda que seja um filme muito mais visual e sangrento do que os predecessores. Uma excelente cinematografia ajuda a montar tudo isto de modo razoavelmente eficaz.
Entre méritos e deméritos, o que realmente não tem salvação é o roteiro. A história que vemos neste filme, no meu entender, não só tem uma articulação muito deficiente com os filmes que o precederam como acaba mesmo por os contrariar, bastando para isso trazer de volta à vida, e por um artifÃcio bastante coxo, uma personagem que vimos morrer com dignidade. Se este filme precisava de Ellen Ripley – e de facto precisava, era a personagem que dava mais coesão e força aos filmes anteriores – o mais lógico era não fazer uma sequela, mas uma prequela ou um spin-off aos filmes anteriores, com uma história que fosse credÃvel e lógica, considerando o que já estava feito.
Em 25 May 2023