Autor: Filipe Manuel Neto
**Soube honrar o seu antecessor.**
Depois de um sucesso tão assinalável era bastante óbvio que a DreamWorks iria produzir uma sequela de *Shrek*, e assim aconteceu. Claro que o primeiro filme tem sempre a vantagem da novidade, mas pessoalmente acredito que esta sequela conseguiu igualar o filme inicial, tanto em qualidade quanto em espírito e capacidade para nos entreter.
O roteiro pega na história mais ou menos aonde o filme inicial terminou: Shrek e Fiona casaram-se e vivem finalmente juntos no pântano. Acontece que as notícias correm depressa, e eles logo irão receber a visita de uma delegação vinda do reino de Lá Lá Longe (detestei a forma como a dobragem para Português Europeu verteu o nome original do reino, “Far Far Away”, para a expressão lisboeta/africana “Bué Bué Longe”, da mesma forma que me parece inadequada a tradução da dobragem brasileira para "Tão Tão Distante"), o qual é governado pelos pais de Fiona. A mensagem convida-os para uma recepção onde serão apresentados ao reino. Acontece que Shrek sabe que nunca foi popular, e que o facto de ambos serem ogres vai ser motivo para grandes problemas. Pelo meio, terão ainda a oposição e as intrigas do Príncipe Encantado e da sua mãe, a poderosa e maquiavélica Fada Madrinha.
Como eu havia dito, o filme consegue manter o nível de qualidade do seu predecessor e honrá-lo inteiramente com uma história que dá seguimento ao que já vimos. Apesar disso, nem sempre o filme se revela tão fresco e tão envolvente como o primeiro. Muito bem feito e editado de forma muito competente, o filme funciona bem e entretém-nos maravilhosamente, além de continuar a nos dar uma versão alternativa muito original dos contos de fadas a que estávamos habituados. A mistura de humor ingénuo e inocente com temas adultos continua a ser visível ao longo do filme, que traz mensagens interessantes e pedagógicas acerca dos estereótipos e da aceitação de quem é diferente. O filme herda quase todo o elenco e equipa técnica da anterior produção e, assim, às vozes de Cameron Diaz, John Lithgow, Mike Myers e Eddie Murphy vieram juntar-se honrosas adições como Jennifer Saunders, Rupert Everett, as veteranas e nobres vozes de Julie Andrews e John Cleese ou ainda os tons densos de António Banderas, o qual é uma das melhores novidades do filme pela forma espirituosa e bem idealizada como deu vida ao Gato das Botas. Apesar de passar despercebido no meio das estrelas, quero também destacar o bom trabalho de voz de Conrad Vernon, que empresta a sua voz a diversas personagens do filme.
A nível técnico, o filme é impecável. A DreamWorks investiu muito nesta produção e isso teve os seus frutos: o filme é visualmente elegante e bonito, com excelentes cores e um trabalho cinematográfico pristino. Gostei especialmente da forma como o reino dos pais de Fiona revela ser, na realidade, uma espécie de brincadeira com a própria cidade de Los Angeles, onde ficam os estúdios de cinema. Nem sequer falta o letreiro de Hollywood! A banda sonora do filme não é tão marcante nem notável quanto a do filme inicial, mas gostei especialmente da canção da abertura, *Accidentally in Love*, e da versão de *Holding Out for a Hero* na voz da própria actriz Jennifer Saunders.
Em 17 Jan 2021