Autor: Filipe Manuel Neto
**Uma lição sobre como não editar um filme.**
Este filme conta a história da última rainha egípcia, Cleópatra, e de como ela usou o romance e a sedução para satisfazer assuntos de Estado e manter a independência do seu país perante uma Roma cada vez mais focada em expandir o seu território. Dirigido por Joseph L. Mankiewicz, que também escreveu o roteiro juntamente com Ranald MacDougall e Sidney Buchman, conta com Elizabeth Taylor no papel da rainha do Nilo, Richard Burton como Marco António, Rex Harrison como Júlio César e Roddy McDowall como Octávio Augusto.
Se este filme tivesse sido lançado sem cortes teria talvez o dobro da duração. Foi o filme mais caro da história até há poucos anos atrás, e temos de considerar que não havia recursos computorizados e tudo foi feito à moda antiga. Foi pensado para um tempo em que ir ao cinema era algo que durava uma tarde inteira, com longas pausas para o café e para socializar. Era o tempo de grandes cinemas como o Condes e o São Jorge, em Lisboa, ou o Batalha e o Olympia, no Porto. Além dos filmes (por vezes mais do que um) transmitiam-se também as notícias, em pequenos documentários. E a verdade é que este filme apanhou, mais ou menos, a transição dessa época para um período em que se passou a ir ao cinema ver aquele filme e pronto. Talvez por isso tenha sido alvo de cortes tão extensivos e de uma edição tão mal feita. O resultado foi um filme "amputado" e que perdeu imensa qualidade com o processo de edição.
Apesar disso, o roteiro manteve certa consistência, os diálogos e atitudes dos actores, bastante teatrais, não ficam mal numa produção épica deste tipo e a maioria dos actores cumpriu bem com o seu papel. O destaque vai para Elizabeth Taylor, com uma performance bem orientada e sedutora e os figurinos mais requintados e detalhados que o cinema já viu até hoje. Ao seu lado, Richard Burton (com quem ela se veio a casar, num dos casamentos mais badalados e polémicos da história de Hollywood), o grande actor britânico, dono de uma dicção inconfundível e que alcança neste filme o ápice da sua carreira. Não obstante o filme não dispor dos recursos digitais a que estamos habituados, trabalharam nele milhares de figurantes e uma vastíssima equipa técnica que construiu cenários à escala real. As cenas da Batalha do Actium são excelentes e mostram a "tecnologia" que a indústria cinematográfica tinha naquela época. A banda sonora, de Alex North, cumpre o seu papel mas decepcionou-me muito ao apostar na atonalidade das melodias.
Este filme é considerado um dos mais notáveis da carreira de Taylor e Burton, que se apaixonam durante as filmagens. Apesar dos cortes excessivos que retiraram ao público a oportunidade de apreciar este trabalho em todo o que é esplendor, é um filme que sempre vale a pena ver e que se tornou um marco do cinema épico.
Em 23 Feb 2018